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terça-feira, outubro 18, 2005

Natureza Morta – Visões de uma Ditadura


“Natureza Morta”, de Susana de Sousa Dias, é um impressionante trabalho de montagem que recorre a imagens de arquivo para reler a ditadura salazarista à luz (ou na opacidade) dos seus rostos. Uma narrativa fisionómica do Estado Novo, através da manipulação do material (desaceleração das imagens) e de uma lógica de campo-contracampo entre elas.
Dentro de uma imagem esconde-se sempre outra imagem. Utilizando apenas filmagens de arquivo e sem recorrer a palavras, “Natureza Morta” pretende redescobrir e penetrar na opacidade das imagens captadas durante os 48 anos da ditadura portuguesa (actualidades,reportagens de guerra, documentários de propaganda, fotografias de prisioneiros politicos, e tambem bocados de peliculas nunca utilizados nas montagens finais), permitindo a sua reabertura a diferentes leituras.
O documentário exibido ontem no DocLisboa na Culturgest da autoria da realizadora Susana Sousa Dias é sobre o nosso longo periodo do Fascismo, visto por uma jovem que não o viveu, e dele só pôde dispor de relatos da época, num trabalho pioneiro sobre a nossa memória colectiva. Mas, será verdadeiro que já não tenha conhecido o fascismo?, que ele esteja morto e defenitivamente enterrado?
Susana Sousa Dias na conferência de imprensa explica a penosa peregrinação para exibir a sua obra, a ausência de subsidios que na prática funciona para que o exorcismo de um assunto considerado tabu torne impossivel a sua visibilidade. Alguem na assistência sugere que é mais fácil “assaltar” o Banco de Portugal do que aceder à informação da Torre do Tombo. A jovem realizadora explica as longas tentativas junto da RTP, a recusa formal do documentário poder vir a ser visto no canal 1, enfim uma vaga promessa de exibição na 2 que nunca se viria a concretizar. “Natureza Morta” acaba por ser comprado pela Televisão Pública da Finlândia onde será exibido brevemente em horário nobre!, ou seja, o caso português torna-se uma visão exótica para a Europa desenvolvida,,, um caso a estudar de como os herdeiros dos regimes totalitários do sul europeu atrasado não conseguiram sair da cêpa torta,,, de como, por contraste, as únicas democracias de sucesso são aquelas onde o povo tem uma acção participativa efectiva no seu quotidiano, e não apenas em dias de voto,,, e que dizer dos nossos 3.459.989 potenciais eleitores recenseados que não votaram?!
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Entre nós, quanto menos o assunto fôr visivel, e quanto menos se falar sobre isso, melhor,,, o silêncio serve o pântano onde se atolam os sucedâneos neofascistas. Continua a secular importação dos três F portugueses: Qualquer despotismo gosta que o povo pense em "festi, frumenti, forchi". Primeiro, que pense no circo. Segundo, que se amargure com a fome. Terceiro, que tema a repressão
(citação daqui)

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