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domingo, dezembro 25, 2005

a Bolívia de Evo Morales

Socialismo ou Barbárie!

De camponês cocalero a primeiro presidente indio da Bolívia,
num país em que 65% da população é indígena e 15% mestiça, é a primeira vez que se elege um presidente dessa etnia. (!) Com um discurso "anti-imperialista", Evo pretende descriminalizar o cultivo tradicional da folha de coca e defende a nacionalização dos recursos naturais bolivianos, principalmente o petróleo e o gás natural. O líder cocalero espera inclusive recuperar o controle de duas refinarias do país que actualmente são administradas pela Petrobrás, a empresa brasileira que investiu mais de US$ 1 bilião de dólares na Bolívia nos últimos dez anos e gera aproximadamente 20% da arrecadação de impostos do governo boliviano.

Evo Morales, cuja vitória era já previsivel (como se pode fácilmente entender aqui, ou aqui) culminando a longa luta pela emancipação dos Movimentos Sociais regionais, assusta os EUA pela sua declarada afinidade com o cubano Fidel Castro e o venezuelano Hugo Chávez. Depois de votar, exigiu do presidente americano, George W. Bush, que retire as suas tropas do Iraque e desocupe as bases militares do seu país na América Latina. A Bolivia é um dos paises mais pobres do mundo e, segundo os nossos "orgãos de informação", viu contemplada a anulação da sua dívida externa numa recente decisão no âmbito da Iniciativa Multilateral para a Redução da Dívida (MDRI). O que os nossos jornais no entanto, com os seus titulos bombásticos de propaganda neoliberal não dizem, enganados pelo próprio FMI, é que esse valor da "dívida perdoada" de 283,5 milhões de dólares apenas corresponde a cerca de 6 por cento do total da dívida! ,,, Perdoa-se uma ínfima parte da Divida Externa, em troca do previlégio de se poderem livremente continuar a garantir a exploração nos mesmos termos, por isso, o "perdão" é concedido depois das economias serem avaliadas de forma positiva em termos de evolução das politicas económicas. Tal levou já o Governador do Banco Central da Bolivia Juan Antonio Morales a avisar que "estas são as melhores condições macro-económicas que o país tem em dez anos" lembrando que "uma queda nos investimentos externos no sector energético pode alterar este cenário".
A pobreza da Bolívia não se deve à infertilidade dos seus solos, nem à escassez de recursos naturais, nem tampouco à dolorosa interioridade a que foi condenada. A pobreza boliviana, como aliás a de todos os outros países latino-americanos (e não só),,, é um produto da combinação do saque colonial, da voracidade dos capitais estrangeiros e da submissão da oligarquia nativa, uma odiosa tríade composta pelos proprietários das terras pelo clero e pelo exército, preocupados exclusivamente com a defesa dos seus previlégios.


Um dos mais influentes teoricos bolivianos, Guillermo Francovich (filho de pai europeu e mãe indigena) tentou desconstruir filosoficamente este mito do "destino adverso", mas o que levou às recentes revoltas populares em El Alto e Cochabamba e à eclosão dos movimentos sociais de base na provincia de Santa Cruz foi sem dúvida a obra de Sergio Almaraz Paz sobre a politica nacional dos recursos naturais - "Petróleo: Soberania ou Dependência". Efectivamente o que agora acontece é o produto do lento germinar de processos de contestação que já vêm evoluindo desde há muito. Vale a pena (re)ver o que sempre disseram aqueles que são acusados de "esquerdismo" pelas forças da (des)Ordem. Àqueles que temem a "sectorização e a fragmentação" do novo Executivo que toma posse a 22 de Janeiro, com a entrega de "jobs for the boys" às bases do "Movimiento al Socialismo" (MAS), Evo Morales já avisou: "Governar não consiste em distribuir cargos mas em mudar o País"

relacionado:
* Vale a pena ler "Irradiquem a Coca-Cola"
(...) "a nota, por assim dizer engraçada, foi a negativa de Evo Morales em aceitar que a folha de coca seja reconhecida apenas para a fabricação da coca-cola e proscrita para o uso tradicional pelos cultivadores bolivianos. “Não é possível que a folha de coca seja usada pela Coca-Cola e proibida para nós.” Pensando bem, será que quando nos transmitiu as suas declarações sobre a Bolívia, Condoleezza Rice estava sob efeito da coca-cola?"

* BOLIVIA : ¿INVASIÓN EN MARCHA?

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