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terça-feira, janeiro 24, 2006













a China Abandona o Dólar

Peter Grandich, titular da Carta Grandich, especializada no mercado de metais, qualifica o abandono do dólar pela China de "golpe mortal", enquanto Mike Whitney (MW), da Information Clearing House ("a China coloca um espartilho de força no dólar", 9/1/06), calcula de forma dramática as consequências da decisão chinesa de diversificar as suas reservas num cabaz de moedas, que pode tornar-se num "Armagedón económico" (sic).

As reservas estrangeiras da China alcançaram no fim do ano a assombrosa cifra de 800 mil milhões de dólares: mais do que o PIB do México e quase 2.5 vezes mais que todas as reservas do moribundo FMI, o qual exibe o desequilibrio planetário em todo o seu esplendor, desde que vem sendo boicotado pelas politicas de emancipação da América Latina. Porém isto não é o mesmo que o Chile diversificar as suas magras reservas de 15 mil milhões de dólares, o que não produziria nenhum efeito no felino dolarcêntrico, ou que o caso da China possa sómente não ter qualquer repercussão.
Pelo contrário, e de imediato, acentua-se a "guerra financeira global" de que ninguém se atrevia até aqui a pronunciar o nome. Fez agora seis meses o boletim “Bajo la Lupa” (27/7/ 05) havía adiantado o presente cenário: ¿Reavaliação do Yuan ou sepultura do Dólar? Sabia-se que a China mais tarde ou mais cedo daria inicio à diversificação das suas reservas que, em lugar de ganhar, estavam em perda devido à grande proporção de dólares desvalorizados detidos em carteira.
Tanto a primeira reserva mundial, o Japão, com aproximadamente um milhão de milhões em reservas, como a Coreia do Sul, com cerca de 210 mil milhões de dólares (quase três vezes mais que as do Banco do México), haviam advertido com bastante antecipação o seu desejo de diversificar as suas tendências de compra face a outras divisas que por necessidade seríam o Euro, o Yen nipónico e, no futuro próximo, o Yuan chinês – alem da tendência de compra de Ouro e Prata.
Não se pode tambem perder de vista que o anúncio da China chega días depois do unilateralismo bushiano, pela voz do super-tóxico Robert Zoellick (o segundo comandante da amazona Condy Rice, ex-conselheiro da mafiosa petrolifera texana Enron, e signatário do Novo Projecto Estado-Unidense) ter posto na sua lista negra um alucinante boicote económico contra empresas chinesas que mantenham relações comerciais com o Irão.

Desde que “Baby Bush” chegou ao Poder, assinala MW, o ouro passou do valor de 200 dólares a 540 a onça, referindo-se que o anúncio da Reserva Federal - de ocultar a medição do M3 "com a finalidade de imprimir mais notas de papel-dólar e assim absorver as ondas de choque da venda massiva de dólares sem que o público se aperceba"- contribuiu a decisão da China, que vinha sofrendo fortes pressões dos EUA para reavaliar o Yuan.
"A decisão chinesa significa", citando MW, "que entrámos num periodo de instabilidade económica onde o futuro dos EUA se encontra amplamente nas mãos dos seus credores. A partir daqui a política económica da China determinará as taxas de juros das hipotecas e empréstimos nos Estados Unidos. "Benvindos à nova Ordem Mundial, Camaradas", terão pensado os dirigentes do Partido Comunista Chinês.

Em 6 de Junho passado a Administração de Estado de Divisas Estrangeiras da China (SAFE, na sigla em inglés) anunciou a "reorganização da estrutura das reservas" para definir a sua "estrategia nacional". Já no passado mês de Setembro, Zheng Xinli, economista do Comité de Investigação Política Central, havía aconselhado que a China devería reconverter as suas reservas estrangeiras em "recursos energéticos externos". Não se fez esperar muito que, a petrolifera chinesa CNOOC (sigla en inglês), especializada em compras ao estrangeiro, adquirisse 45 por cento das acções duma empresa análoga na Nigéria por 2 mil 269 milhões de dólares (segundo a Agência Xinhua, 10/1/06), no mesmo dia da visita mediática do presidente Evo Morales à China, que da mesma forma se apressa a realizar importantes investimentos no sector energético da Bolivia que detém as segundas reservas mais importantes de gás do continente americano.
Com quatro dias de atraso, o The Washington Post, o jornal do “establishment” americano , admitiu, referindo-se ao anúncio da SAFE, que a "China perdia confiança em relação ao dólar" (9/1/06). A partir de Shanghai, o reporter do Post Peter S. Goodman acescentou: a "preocupação chinesa em ter ligado as suas poupanças tão estreitamente ao dólar, divisa que muitos economistas consideram destinada a sucumbir", tambem mudará a sua política de comprar titulos do Tesouro norte-americano. Não o disse o repórter, porém, até Outubro passado, a China e os investidores privados chineses estavam na posse de 247 mil e 600 milhões de dólares en titulos do Tesouro, a segunda potência logo atrás do Japão, o que não obsta que exiba a sua profunda preocupação: "a mínima reviravolta dos investimentos chineses em dólares (nota: reservas, titulos doTesouro, bens imobiliários, acções, etc.) pode provocar a rápida descida de valor das notas verdes". Goodman cita o Shanghai Securities News, que divulga a intenção da China de "mudar as suas poupanças para o Euro e para o Yen, e a compra de matérias primas como o petróleo como reserva energética estratégica".
Há que reconhecer que as autoridades chinesas são extremamente brilhantes, o que faz toda a diferença relativamente aos governos neoliberais fanáticos monetaristas que se deixam enfeudar politicamente, sem resistência, à obscena hegemonia da mediocridade balofa do dólar de Alan Greenspan e Ben, (que tem a curiosa alcunha de “helicóptero”) Bernanke. Os homens mais ricos dos Estados Unidos (e do planeta) Bill Gates e Warren Buffet que, em vésperas de falência brevemente teremos “entre nós a ensinar coisas”, desde há muito que arriscam as suas fortunas pessoais para segurar os papéis verdes de crédito chamados dólares. Debalde! - porque entretanto além da China, alastram os movimentos de compra de valores alternativos por parte da India, Japão, Rússia, Coreia do Sul, das Petrocracias do Médio Oriente até à Austrália que rompem a coesão anglo-saxónica da decadente anglo-esfera económica gerida pela omnipotente Reserva Federal,,, que assim vêem os seus vulneráveis valores evaporararem-se em benefício do “ouro negro” e do “ouro amarelo”.
Yu Yongding, economista do Banco Central da China, citado por Peter Goldman, deduz que os "países com grandes reservas verão os seus activos encolhidos". Ainda assim há quem defenda que não haverá nenhum desenlace dramático, nem esta será ainda o fim da “Era do Dólar”, embora a ideia peque por ser excessivamente ingénua, quando se argumenta p/e que "se a China e o Japão conduzirem uma queda significativa do dólar, também elas sofreriam as consequências: - exportações abruptamente diminuidas conforme os estadunidenses percam o seu poder aquisitivo, de acordo com a queda de valor dos activos em dólares". ¿Mas que quererá dizer "queda significativa"?

Num estudo mais académico, Martin Feldstein, professor de Economía de Harvard, fustiga a ligeireza da "imprensa de negócios" e dos seus "analistas financeiros" (não são "analistas", mas sim vulgares propagandistas muito bem lubrificado$) e considera que o "valor real do dólar ponderado mercantilmente deve cair pelo menos 30 por cento (sic!) para que o seu défice comercial diminua para um nivel mais sustentável de 3 por cento do PIB. (...) mas podem ocorrer desvalorizações mais profundas. Na segunda metade da década de 1980, défices de conta corrente menores de 4 por cento do PIB provocaram uma queda de 40 por cento" ("A retoma do tío Sam pode não ser destinada para nada daquilo que parece", afirmou o próprio The Financial Times em 9/1/06).
¿ Em quanto se desvalorizarão as moedas dos povos que sobrevivem numa delirante blindagem ditada pela sorte neoliberal do dolarcentrismo bushiano?, enquanto entretanto as dilectas élites transnacionais avisadas pelos Banqueiros compram barras de ouro que pela primeira vez atinge os 550 dólares no último quarto de século? - e os empresários são aliciados para investirem fortunas a crédito no estrangeiro, nos novos paises de economia emergente BRIC (Brasil Rússia,India,China, Angola, etc) cujos activos se desvalorizarão rápidamente, enquanto os juros subirão vertiginosamente?
Se é com este tipo de jogadas que o Império conta para a retoma, a todos aqueles que não têm nem vergonha nem escrúpulos, se deseja bom proveito.

Adaptado sobre uma noticia de Alfredo Jaliffe Rahme publicada no jornal “La Jornada”, México

* a ler: "Os primeiros passos da megacrise" (no Resistir.info)

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