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quarta-feira, março 01, 2006

Iraque




Luta pelo Poder, Conflito Tribal ou Guerra Religiosa? interroga-se a Time Magazine sobre o problema do Iraque. Nas penas afiadas destes tarefeiros da desinformação, a coisa parece ser tudo, menos uma invasão por tropas estrangeiras; uma acção criminosa e ilegal efectuada à revelia do Direito Internacional.


















Samarra, cujo nome deriva do árabe “Sarre men ra’a” que significa “Uma ventura para todos aqueles que a viram”, é considerada uma cidade sagrada por muitos Muçulmanos e historiadores porque foi aqui a capital do Império Abássida, fundada pelo Califa Al-Mu’tasim.
Local de peregrinação para ambas as etnias “Xiitas” e “Sunitas” a Mesquita Dourada Askari (século X) com o seu célebre minarete Malwiya é muito importante porque se acredita que aqui foram enterrados dois dos doze Imans xiitas, Ali Al-Hadi e Hassan Al-Askari, pai e filho, e muitos crentes xiitas crêem que o “profeta escondido” Al-Mahdi ‘al Muntadhar’ um dia ressuscitará e voltará a aparecer precisamente a partir desta mesquita para repôr a justiça no mundo. Enfim, nada que, em consciência, faça corar de vergonha os fiéis da nossa Irmã Lúcia.
Foi esta Mesquita que foi armadilhada e destruida à bomba, a semana passada, pondo o Iraque, sob ocupação norte-americana e debaixo da insurreição generalizada do povo iraquiano, à beira da guerra civil. As primeiras noticias recebidas davam noticias, perante uma população horrorizada, “que um grupo de homens vestidos com os uniformes do exército iraquiano tinham avançado e dinamitado a mesquita causando-lhe estragos quase irreparáveis”. Já em Abril do ano passado, o minarete em espiral de outra designada por a Grande Mesquita (século IX), considerada pela Unesco Património da Humanidade, tinha sido destruido. A explosão fez desaparecer a cúpula dourada, uma das maiores do mundo muçulmano, revestida por 72 mil peças cerâmicas forradas a folha de ouro com que foi coberta. Desaparecendo este símbolo religioso, apagando a memória, desaparecerá também a vontade dos peregrinos rumarem ao seu local sagrado?
Em Baghdad, como sempre, as manhãs começam com constantes tiroteios por toda a cidade, a intervalos interrompidos pelos silêncios das ruas desertas. As insurreições populares e o vandalismo viraram-se agora para ataques de represália a muitas das Mesquitas de Baghdad atingidas por intensas rajadas de balas. 90 Mesquitas sunitas foram atacadas por todo o país. Estes ataques são tanto mais perturbantes, quanto alguém responsável pela destruição de Samarra parecia esperar que fosse precisamente esta a reacção em que apostaram. Altas figuras religiosas todos os dias apelam à calma e alertam para que é esta divisão que os ocupantes do Iraque perseguem - dividir as etnias e torná-las antagónicas e vulneráveis para poderem reinar sobre elas. Entre a população média e alguns extractos mais sofisticados a horrorosa ideia de Sunitas e Xiitas se virem a combater uns aos outros é uma pequena parte de um plano muito mais vasto e ignomioso.Em todas as análises o fantasma da guerra civil começa a estar sempre presente. As milicias de Mahdi al Badr, cujo chefe espiritual (chiita) estava exilado no Irão por alturas da invasão e que se afirmaram das mais insurrecionais, têm tomado inúmeras mesquitas e parecem estar por todo o lado.


Entre os americanos anti-guerra o jogo “Iraquepólio” faz sucesso. Trata-se de avançar Iraque adentro com os peões por caminhos tortuosos, repletos de perigos, e sujeitos às habituais penalizações – até chegar a Baghdad, onde os jogadores têm de optar por uma saída que não existe.

Os Estados Unidos aceitaram as Milicias Xiitas como uma componente essencial para o combate contra a insurreição.

Desde os primeiros dias do governo Al-Yafaari, que se deu a Al-Badr o controlo do Ministério do Interior, com Bayan Yabr, um ex-comandante das Milicias de Mahdi al Badr e dirigente do CSRI*(1), como ministro. Ele permitiu a Al Badr ocupar altos cargos no ministério e exercer uma influência importante na planificação das operações contra-insurgência. Badr formou novas unidades operacionais que estão consideradas as mais motivadas e eficazes nas novas forças de segurança.
Mas a organização Badr depressa começou a utilizar o Ministério do Interior para perpetrar assassinatos sectários. ¿Estará o Irão a ganhar influência e poder no Iraque através destas milicias? – a crescente campanha yankee de diabolização do Irão por outros motivos leva a crer que sim.

O Irão no Iraque, é uma ameaça real à hegemonia dos Estados Unidos no Médio Oriente
O primeiro ministro Iyad Alawi que recolheu nas últimas eleições o voto laico de xiitas, curdos e sunitas não vinculados com a Resistência, pode acabar por se consolidar como o candidato dos Estados Unidos favorecido para reforçar uma nova frente politica interna que enfrente a crescente hegemonia do fundamentalismo Xiita dependente do Irão, actualmente uma manifesta preocupação de Washington. O atraso de muitas semanas na publicação dos resultados das eleições de Dezembro já se deveu aos reajustamentos nesse sentido e à intenção de limitar no Parlamento a predominância de candidatos de etnia xiita, que por acaso alheio à vontade dos deuses invasores americanos, até é a etnia maioritária na região.
A canção do bandido chamada Democracia continua a ser ensaiada no Iraque martirizado e destruido, apesar da música já estar mais do que estafada. ¿Destruido? Nem todo,,,

à esquerda: Refinaria depois da 1ª guerra do Golfo, antes da invasão – à direita: A mesma refinaria, reconstruida, nos dias de hoje. Mais imagens e pormenores, aqui.

Como lembrou o insuspeito VPV “a experiência de nation building, que excedeu em cegueira e arrogância, qualquer precedente histórico moderno, acabou de vez. Mas não acabou ainda o efeito que vai ter sobre o Ocidente”
Nem vai acabar tão cedo, porque a economia de guerra, militarizada, é a única saída possivel para o capitalismo eternamente à beira da falência.

notas adicionais:
*(1) CSRI – o Conselho Superior para a Revolução Islâmica, cujo lider espiritual é Abdul Aziz Al Hakim organiza-se em milicias pela Organização Badr que foi formada no Irão na década de 80. Outro grupo designado Exército de Mahdi formado pelos seguidores do clérigo Moqtad Al Sadr outro lider xiita exilado no Irão durante o governo de Saddam Hussein, enfrentou o ataque do Exército Americano a Najaf em 2004 e Fallujah o ano passado. Ambos (ou serão apenas um?) estão sob suspeita de serem financiados pelo Irão. A guerra Irão-Iraque constituiu na época um primeiro ensaio na guerra mais geral entre Xiitas simpatizantes dos revolucionários Iranianos que correram em tempo com os Americanos da sua pátria, governada por um títere oligárquico ao serviço do Imperialismo (1979) e os Sunitas que permaneceram no Poder no Iraque sob a égide de Saddam a quem os americanos (George Bush pai) generosamente financiaram e armaram para os combater.

* a Estrada para a Guerra Civil: Cronologia recente da fabricação do conflito Xiita-Sunita

* Fallujah - O Massacre Esquecido pelo qual, entre outros crimes, George W. Bush (filho) e os seus sequazes serão um dia julgados em Tribunal Internacional.

* Terça 28/2 - Moqtad al-Sadr apela à unidade de todas as forças politicas para expulsar os EUA do Iraque

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