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quinta-feira, abril 06, 2006

para Angola, rápidamente e em força (outra vez)



1/3 dos empresários que perfazem o PIB português rumaram a Angola com a previsivel intenção de implementarem os negócios decididos por quem manda na nossa parceria atlântica de que fomos aliados indefectiveis aquando da celebração do Acordo das Lages e da “Operação Liberdade Duradoira”. Ao envolvimento nas politicas internas de outro país, antigamente chamava-se neocolonialismo. Agora chama-se ingerência, roubo e usurpação – ou seja, não há aqui nada de novo, usam-se os mesmos processos de colonização utilizados no século XVI aquando da nossa chegada como conquistadores - comerciamos com os Sobas locais do litoral onde acostavam as caravelas e esses negros já então ricos, os mais espertos, se encarregam de escravizar os seus irmãos entregando-os por gerações nas mãos dos novos negreiros. Assim é, no essencial, embora esta segunda vaga colonial traga algumas novidades, não no conteúdo, mas na forma.
Com quem irão desta feita os empresários portugueses fazer parcerias? A corrupção nos negócios de Estado em Angola é tão conhecida que dispensa grandes introduções. (vidé uma série de 4 posts que publiquei aqui)

As ligações nos negócios é impossivel sem dialogar (leia-se: combinar as percentagens de luvas) com os nomes relacionados com o Poder Politico e o Regime que vão até ao mais alto nivel da hierarquia desde familiares do presidente José Eduardo dos Santos, a Generais, Ministros, ex-Ministros, e toda uma arraia menor de funcionários Superiores que orbita o Poder, a malta dos “esquemas e da Gasosa”, diz-se em dialecto local – nomeando os figurões que pululam nos seus carros de luxo topo-de-gama numa Luanda ainda devastada, pelo meio das latas apodrecidas da população e dos enxames de crianças andrajosas de barrigas inchadas por não comerem. Excepto nas marcas dos bólides, guiados por pretos (bastantes) em vez de brancos (poucos), o panorama não mudou nada, desde que quatro décadas atrás os nossos soldados que rumavam para se perder na guerra Colonial percorriam a via sacra desde o desembarque no porto de Luanda onde eram carregados em vagões de mercadorias a caminho do campo militar do Grafanil, antes de serem expedidos para as matas do interior. Os mais velhos lembram-se desse percurso dramático através da linha férrea que passava pelos enormes e compactos musseques dos subúrbios, e da estupefacção ao ver o comboio ser perseguido por centenas de crianças negras seminuas implorando esmolas e comida das rações de combate; “tostão, tostão, Senhor!” - jamais os jovens soldados rápidamente transformados em combatentes à força esquecerão esses gritos da tragédia humana que, desde que empreendemos a “ajuda” aos nativos, se desenrola em África.

Óbviamente que as lógicas dos negócios e das guerras não se compadecem com práticas nem com revivalismos bondosos. Por (co)reincidência uma das figuras de proa da presente comitiva é Luis Amado, o ministro da Defesa que assim nos passa novamente para o ataque, (“Treino para a Paz”, diz ele) não já orgulhosamente sós como antigamente, mas apadrinhados por quem na altura via na nossa presença empecilhos à exploração das riquezas petrolíferas (e outras) da então Colónia. É conhecido que os Estados Unidos financiaram os movimentos de Libertação pró-ocidentais em Angola numa remake africana da guerra-fria contra o Comunismo. Depois da panelinha combinada com as autoridades militares de Luanda, Amado seguiu para Kinshasa como enviado especial da “NATO Response Force” preparando o terreno para interferir no resultado das primeiras eleições que se vão efectuar no Congo desde 1961. O principio da aventura militar portuguesa em Angola que asssenta que nem uma luva na estratégia militar de Dos Santos. Não há-de faltar muito para vermos uma intervenção de Angola no Congo com apoio da Nato e da UE. (Programa de Apoio às Missões de Paz em África (PAMPA) à revelia da verdadeira força de Paz estacionada naquele país sob a égide da ONU. Luís Amado na tarde do dia antes de partir teve o seu primeiro encontro de trabalho com o Presidente da República, Cavaco Silva, no Palácio de Belém. O Presidente é o Comandante Supremo das Forças Armadas; mais uma vez o Petróleo continua a ser um bem essencial cuja defesa não se compadece com os interesses dos povos. Quantos sacrificios, miséria e vidas custa cada tonelada de carbono queimada para a atmosfera pela nossa brilhante civilização do homus automobilis?

(recorte do jornal Público de hoje, sem link)







O que é que se dizia das Forças Armadas nos tempos do salazarismo? - que eram um Estado dentro de outro Estado! - que agora, depois de convenientemente mercenarizadas embarcam em novas aventuras, extravasando para fora do Estado,,, mais uma vez com consequências imprevisiveis.

Oficialmente Luís Amado defendeu "que Angola, pela sua experiência, tem muito a dar a nível mundial em questões de segurança e defesa neste momento de globalização. Angola resolveu o seu conflito militar interno de forma exemplar e tem sido bastante útil na resolução de forma pacífica de vários problemas militares no continente africano e as suas experiências são bastantes importantes para o mundo, reconheceu o ministro português"; mas esqueceu-se muito convenientemente de referir que esse know-how militar foi inteiramente fornecido por Israel, incluindo os próprios pilotos da Força Aérea dotados da mesma tecnologia GPS com que estes abatem com misseis os alvos palestinianos - de forma igual à usada para eliminar a oposição democrática que concorreu às eleições em Angola em 1992. Exemplar, como disse o "nosso" ministro.
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(Continua)
Não perca o próximo capitulo, dedicado às parcerias de negócios - branco no preto e preto no branco - a sorte protegerá a audácia das transparências!?

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