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segunda-feira, maio 29, 2006

Desde que um jornal meta as mãos numa história, os factos perdem-se para sempre, mesmo para os protagonistas
Norman Mailer





ora diga-nos,
em que jornal se pode ler uma recensão do livro de Anselm Jappe,"As Aventuras da Mercadoria", nestes termos:

Tornou-se banal dizer que o mundo não é uma mercadoria, que é imperativo repudiar a «mercantilização» da vida. No entanto, ninguém ousa abordar a questão central: de onde advém exactamente esta impostura, esta inversão da realidade geralmente atribuída ao dinheiro e ao consumo? Marx respondeu a esta questão há mais de um século: os seres humanos fetichizam o «valor», fabricam um conceito todo-poderoso, um novo deus que nada tem a ver com a realidade das suas vidas nem com as respectivas necessidades.

"Há alguns anos muita gente estava disposta a acreditar no “fim da história" e na vitória definitiva da economia de mercado e da democracia liberal. Considerava-se que a dissolução do império soviético era uma prova da inexistência de alternativa para o capitalismo ocidental. Partidários e inimigos jurados do capitalismo estavam igualmente convencidos desse facto. E, segundo essa opinião dominante, a partir daí a discussão deveria girar apenas em torno de questões de pormenor acerca da gestão da realidade existente.
De facto desapareceu completamente da politica oficial toda e qualquer luta entre concepções divergentes e, salvo algumas excepções, passou também a estar ausente a própria ideia da possibilidade de imaginar uma maneira de viver e de produzir que fosse diferente da que se impôs. Esta última parece ter-se convertido por toda a parte no único desejo dos homens. Porém, a realidade verga-se às ordens com menos facilidade do que os pensadores contemporâneos. Nos anos que se seguiram à “vitória definitiva” da economia de mercado, esta mostrou mais fragilidade do que durante as cinco décadas precedentes, como se na verdade a derrocada dos países do Leste não tivesse sido mais do que o primeiro acto de uma crise de proporções mundiais".


"O desemprego real cresce por toda a parte, e uma vez que a causa reside no enorme salto de produtividade decorrente da revolução informática, nada poderá inverter essa tendência nem a de desmantelamento do Estado social. Estas duas tendências, em conjunto, geram a marginalização de uma parte crescente da população, mesmo nos países mais ricos, que entram em regressão relativamente aos padrões vigentes durante um século de evolução social.
Quanto ao resto do mundo, encontram-se umas quantas ilhas de bem-estar e de democracia new-look no meio de um oceano de guerras, de miséria e de tráficos abomináveis. E não se trata de uma ordem que, sendo injusta, fosse pelo menos estável: a própria riqueza encontra-se constantemente sob ameaça de desmoronamento.

As Bolsas financeiras, com movimentações cada vez mais irracionais e sujeitas a colapsos cada vez mais frequentes em países modelo com a Coreia do Sul, a Indonésia oua Argentina, anunciam aos olhos de qualquer observador, mesmo o mais leviano, um cataclismo a breve prazo. Enquanto se vai esperando, há uma espada de Dâmocles suspensa sobre a cabeça de todos, ricos ou pobres: a destruição do ambiente. Neste domínio, cada pequeno melhoramento da situação que se consegue levar a cabo num determinado sítio é acompanhado por uma dezena de novas loucuras praticadas em outros locais do mundo".
* leia mais,sobre o livro de A.Jappe no blogue "Pimenta Negra"

relacionado:
* "Do Marxismo à Crítica do Valor" - por Ulrich Leicht
* A sociedade do espectáculo trinta anos depois, por Robert Kurz
* o DN publicou uma entrevista com o autor, da autoria de José Mario Silva, na secção de "Artes"

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