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sexta-feira, junho 02, 2006

Angolagate: o julgamento que nunca se fará?

Jeanne Charmant Killman (Isabelle Huppert), juíza de instrução, está responsável pela investigação de um complicado processo de peculato e desvio de fundos envolvendo o presidente de um importante grupo empresarial. Á medida que as suas investigações avançam, ela compreende que a sua autoridade corre riscos: quanto mais ela aprofunda os segredos, mais os meios de pressão aumentam, enquanto a sua vida privada vai sendo ameaçada. Em breve irão colocar-se duas questões fundamentais: até onde pode ir o seu poder sem que este entre em conflito com um poder maior que o seu?,,, até onde pode a natureza humana resistir à atracção desse poder?,,, pode ela sair de tudo isto sem ser destruída?
Inspirado no escândalo politico e financeiro conhecido como o caso "ELF", o nome da companhia petrolífera cujos executivos se dedicaram durante vários anos a traficar influências e dinheiro "sujo", servindo de intermediários entre elementos da classe politica francesa e chefes de estado de países africanos. O filme explora o efeito perverso sobre a juíza que lidera a investigação, que o poder de enviar políticos importantes exerce, e como isso a torna quase viciada na investigação.
As várias hierarquias do poder na estrutura de um Estado estão patentes em «A Comédia do Poder», deixando uma mensagem simples: mesmo quem se julga o mais poderoso acaba por ser esmagado perante os interesses dos mais poderosos. Como uma espiral, a corrupção não tem fim.

Angolagate: Tribunais, filhos de ex-Presidentes, grandes accionistas da Banca.
* ver "Os Homens do Presidente" (aqui em PDF)
* a história do Angolagate já foi em seu devido tempo dissecada aqui.

Quanto ao julgamento, preparado em França e previsto para meados de 2005, nunca (ainda não) chegou a acontecer.
Ao contrário, a corrida à compra do jornal “France Soir” voltou a trazer para a ribalta, outra vez, o nome destes dois implicados: Jean-Christophe Mitterrant, filho do antigo presidente “socialista” francês e o alto Empresário da máfia russa, o judeu Ari Barlev, mais conhecido por Arcadi Gaydamak.

Barlev, agora dito Gaydamak, de nacionalidade israelita, com passaportes de cidadão russo, canadiano e angolano (é amigo pessoal do presidente Zedu), o maior accionista da rede da banca francesa USB, tem entrada interdita em França (e na Suiça) onde é procurado pela justiça. A compra do “France Soir” e o que nesse jornal iria passar a ser escrito, ajudaria decerto a maquilhar a imagem do “empresário” que em conjunto com o “sócio” Pierre Falcone resolveram em tempos ganhar uns trocos – forneceram ao Estado angolano carregamentos de armas de fabrico russo avaliados em 500 milhões de dólares. Um quinto desse valor, alegadamente proveniente dos lucros da companhia petrolífera angolana “Sonangol” foi parar ao seu bolso, como comissão pelo negócio, mediado pelo banco USB, nada declarando ao Fisco, uma vez que a transacção (ilegal) carecia de autorização politica prévia do Estado francês.
Gaydamak, que tem uma fortuna calculada em 3000 milhões de dólares, pagou em dinheiro vivo 15 por cento da divida externa angolana à Rússia (no valor de 6000 milhões de dólares), é conselheiro pessoal de José Eduardo dos Santos, fez donativos generosos para as vítimas do 11 de Setembro e é contribuinte liquido como benemérito do Exército de Israel. É proprietário de jornais (o Moscow News), de um clube de futebol (o Beitar de Jerusalém, onde esteve recentemente José Mourinho numa acção de propaganda a favor da paz podre concedida aos miseráveis na Palestina), de outro clube de basquetebol (o Hapoel), promitente comprador do Portmouth em Inglaterra, proprietário de minas de fosfato no Cazaquistão, cadeias avícolas e vastos interesses Imobiliários na Rússia, além de entrar em negócios internacionais ligados ao gaz, petróleo, helicópteros e armamento, onde garante “emprego” a antigos líderes da Mossad, os serviços secretos de Israel. Enfim, o homem de mão providencial para ter negociado com o ex-ministro dos negócios Estrangeiros de Cavaco Silva, o amigo Durão Barroso, (em nome do Quarteto de nações) o aniquilamento étnico que destruiu a oposição em Angola e que culminou no assassinato de Jonas Savimbi por aviões com equipamentos GPS da Força Aérea pilotados por oficiais militares israelitas.

Gaydamak, para não ir parar à prisão, não por nenhuma das acções deste rol, porque isso é do âmbito do “Mercado Livre”, mas por mera fuga ao Fisco (como AlCapone), socorre-se dos melhores advogados e refugia-se em estratagemas e relações perigosas que levam os seus acusadores à loucura. Sobre as satisfações que deve à Justiça, diz-se pronto para regressar a França e que “seria vantajoso explicar-se em tribunal, mas apenas quando for escolhido outro juiz para o caso”.
O actual Philippe Courroye, “manipula a comunicação social contra mim”, conclui. Ora aqui está um “cliente” para quem as Agências de Comunicação portuguesas e os ricardos costas deste país não desdenhariam em trabalhar no “France Soir”.
Percebe-se agora melhor o titulo do filme de Chabrol, “A Comédia do Poder”?
Perante “money-in-cash” não há sacana que não se abaixe.

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