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terça-feira, junho 20, 2006

Rumo à Bioescravidão: Próxima paragem: Auschwitz

a noticia: o Chefe de Estado teve acesso a um admirável mundo novo, as biociências e a biotecnologia, enquanto à margem elogia o "choque tecnológico de Sócrates", feito de forma económica poupadinha, na base dos mesmos tijolos de sempre, empregues na construção desbragada de dezenas de milhares de camas no litoral alentejano e no Alqueva para turistas ricaços.

artigos de referência:
* "O Espectro do Eugenismo Liberal, o Capitalismo Biotecnologico" – de José Luis Garcia publicado originalmente no Le Monde Diplomatique em Novembro de 2003.
* "A Biodiversidade e o futuro da Vida" - Leonardo Boff, na Adital
* "Anarco Capitalismo, o Homem Modificado pelo Mercado" – Dany-Robert Dufour publicado no "Le Monde Diplomatique" em Maio de 2005
* "Terminator: rumo à bioescravidão" - Silvia Ribeiro, Agência Carta Maior
* "Eugenismo - O imperialismo genético" - Vandana Shiva


Abre-se a tela. Encontramo-nos no interior de um comboio que viaja a uma velocidade inusitada. Vai tão rápido, que a paisagem destruída no exterior não pode ser observada com um simples olhar. Cómodamente sentados viajam dois passageiros em frente um do outro. Um deles é uma inquietante QUIMERA TRANSGÉNICA cujo aspecto nos pode fazer recordar o seu, prezado leitor, ou o dos seus próprios filhos. O outro viajante é um CIDADÃO de face verde-molusco-esponjosa que se desloca como sempre, todos os dias, para realizar a sua obra de arte particular.
CIDADÃO: Desculpe-se me o incómodo, porém não posso evitar perguntar-lhe ¿O senhor não será uma QUIMERA TRANSGÉNICA?
QUIMERA TRANSGENICA: Sou sim; e como deve calcular, dirijo-me ao matadouro, dado que o meu ciclo vital de vida está concluido.
CIDADÃO: Para o matadouro em carruagem de primeira?. ena,,, Quanto me alegro. Mas diga-me; ¿o senhor o que é? Gado vacum, frango, porco ¿ou alguma das nossas outras especialidades exóticas?
QUIMERA TRANSGÉNICA: Metade homem e metade salsichão de carneiro. Mas tome atenção: salsichão autêntico, nada de falsificações, sou cem por cento biológico.
CIDADÃO: Permíta-me que o felicite, o senhor é das nossa melhores criações. E por favor, deixe-me que o convide a tomar uma destas pílulas azuis enquanto continuamos a nossa conversa.
QUIMERA TRANSGENICA: Que cor bonita ¿ São de quê?
CIDADÃO: A sua composição é-me completamente desconhecida, porém produzem um são e desconcertante bem-estar.
QUIMERA TRANSGENICA: (Tomando uma pastilha e rindo-se imediatamente) É verdade, ah, ah,. Sim, sim ah, ah, ah.
CIDADÃO: (Tomando outra) ah, aha, ah, tá boa,,, ah, ah, ah
QUIMERA TRANSGÉNICA: ¿Porque nos estamos a rir?
CIDADÃO: Não sei, se calhar foi porque tomámos estas pilulas azuis.
QUIMERA TRANSGÉNICA: Não me recordo.
CIDADÃO: Efectivamente, potenciam artificialmente o riso, porém reduzem automáticamente a memória. É chato mas dá vontade de rir ¿não é verdade?.
QUIMERA TRANSGENICA: é verdade, é verdade…Acho que depois destes risos incontroláveis podemos considerarmo-nos amigos, grandes amigos, amigos para toda a vida.
CIDADÃO: Claro, podemos inclusivé fazer confidências um ao outro, como fazem os camaradas.
QUIMERA TRANSGÉNICA: ¿Então posso-te contar um pequeno segredo?
CIDADÃO: Com certeza, mano.
QUIMERA TRANSGÉNICA: Por vezes, sem vir nada a propósito, sinto umas ganas irrefreáveis de escapar antes de chegar ao matadouro. ¿É grave?
CIDADÃO: Não é nada pá! É simplemente um síntoma de humanidade que te sobrou, mas não te preocupes, podes sempre ser redesenhado. Essa é uma das grandes vantagens do nosso sistema de Segurança Social. Em qualquer caso tu és quase humano, e cedo chegará o dia em que as Quimeras Biotecnológicas se igualem ao género humano.
Todo o ser vivente desde as bactérias, plantas, moluscos, crustáceos, anfíbios, aves, peixes e mamíferos, se vão poder considerar humanos. Não haverá então nenhuma diferença. Seremos iguais. O acto de matar para comer acabará. As biotecnologías solucionam o problema. Podemos alimentarmo-nos graças à auto-regeneração automática dos nossos corpos. Eu dou-te uma dentada, e tu dás-me outra dentada a mim, em plena fraternidade. Que fixe?, não é?
QUIMERA TRANSGENICA: Deve ser, mas, depois disso ¿quem fará o trabalho dos escravos?
CIDADÃO: Enquanto bestas, homens, e organismos unicelulares seremos todos iguais, o trabalho degradante será realizado por máquinas. Mas, antes que as máquinas sejam convertidas em homens, viveremos uma idade de ouro onde o vivente mostrará ao mundo as suas potencialidades criativas. ¿ Podes imaginar umas meras algas convertidas num Newton, num Sócrates, ou num Dalí?
QUIMERA TRANSGÉNICA: E então marcharemos juntos de mão dada até a um novo amanhecer da humanidade
CIDADÃO: Já estamos em marcha. De facto as bestas biotecnológicas já têm os mesmos direitos que o homem. Conquanto seja um dado adquirido que o ser humano já foi libertado do trabalho alienado, persistem todavia lugares onde as máquinas ainda não podem chegar, e aí estão vocês, as Quimeras Transgénicas, nas minas, nos sistemas de esgotos, nas cadeias de produção, nas oficinas, durante um breve período, até que a técnica os liberte também, como fez connosco.
QUIMERA TRANSGÉNICA: ¿ E sabe-se lá a que maravilhas nos levará este comboio (!),,,
CIDADÃO: ¿Estás a ver este botão?
QUIMERA TRANSGÉNICA: Sim, estou a ver.
CIDADÃO: Se carregares nele sucedem sempre duas coisas. Por exemplo, que as luzes da minha casa se acendam e apaguem como numa discoteca, ao mesmo tempo que, muito provavelmente, este mesmo acto provoca um pequeno holocausto nalgum lugar desconhecido do mundo
QUIMERA TRANSGÉNICA: É pá! Isso é terrivel!
CIDADÃO: Pois! Concerteza que não é nenhuma maravilha. Digamos que é um efeito secundário, um desastre quotidiano que a ciência deverá mesmo ter de solucionar. Esta é a minha confidência querido amigo.
QUIMERA TRANSGÉNICA: Prometo que guardarei o segredo.
CIDADÃO: Áh pois; o que é certo é que agora já sabes demais. Acho que vou ter de te matar aqui mesmo, antes de chegares ao matadouro, não te vás tu rebelar.
QUIMERA TRANSGÉNICA: Juro pelo meu código genético que não me ocorreu al ideia.
CIDADÃO: Se calhar, por mero acaso,,,
QUIMERA TRANSGENICA: E se eu saltar em marcha,,,
CIDADÃO: Morres desintegrado.
QUIMERA TRANSGENICA: Então é isso? ¿ o teu projecto de libertação animal, a tua democracia criativa total, o tal mundo novo que me anunciavas?
CIDADÃO: A seu tempo querido amigo. De momento o ganho biotecnológico adquirido deverá acudir em primeiro lugar às oficinas e aos matadouros pontualmente. Logo os iremos liberalizar a vocês, não se preocupem, e sobretudo, não se queiram antecipar. ¿Ou por acaso crês que vamos renunciar a estes dias de vinho e rosas sem antes assegurarmos um novo modelo de escravo?. Queres um conselho; disfrutem da vossa condição enquanto possam.
QUIMERA TRANSGÉNICA: ¿E assim se acaba esta história?
CIDADÃO: Sim, enquanto o comboio não chega à próxima paragem

(adaptado de diálogo recebido por email, em espanhol)

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