Pesquisar neste blogue

terça-feira, maio 29, 2007

"Precariedade, desemprego, flexisegurança, desigualdade.
O país está marcado por estas quatro palavras". E que fazem os sindicatos "social-democratas"? não aderem à greve! - a "UGT funciona como uma direcção-geral do Poder"


desenho de George Grosz, da série "O Rosto da Classe Dirigente"

Alexandre O`Neill, (1924-1986), introdutor com Cesariny do movimento surrealista em Portugal, cedo evoluiu para o inconformismo face às misérias do país do seu tempo, usando o humor negro e a paródia para atacar as convenções, a tacanhez e o obscurantismo da sociedade salazarista:

O Tempo Sujo

“Há dias que eu odeio
Como insultos a que não posso responder
Sem o perigo duma cruel intimidade
Com a mão que lança o pus
Que trabalha ao serviço da infecção

São dias que nunca deviam ter saído
Do mau tempo fixo
Que nos desafia da parede
Dias que nos insultam, que nos lançam
As pedras do medo, os vidros da mentira
As pequenas moedas da humilhação

Dias ou janelas sobre o charco
Que se espelha no céu
Dias do dia-a-dia
Comboios que trazem o sono a resmungar para o trabalho

O sono centenário
Mal vestido mal alimentado
Para o trabalho
A martelada na cabeça
A pequena morte maliciosa
Que na espiral das sirenes
Se esconde e assobia

Dias que passei no esgoto dos sonhos
Onde o sórdido dá as mãos ao sublime
Onde vi o necessário onde aprendi
Que só entre os homens e por eles
Vale a pena sonhar”

Que o sol não se ponha mais amanhã
Nem jamais se oculte na noite da indiferença


.

Sem comentários: