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quarta-feira, novembro 21, 2007

Por qué non te callas? (IV)

"os Media são o aparelho ideológico da globalização"
Ignácio Ramonet

Segundo o Guardian o irado “por qué non te callas?” do Rei Borbón virou um negócio de milhões. Com a famosa frase inscrita tudo se vende, desde toques de telemóvel a t-shirts, canecas, enfim, até um “prós-e-contras” na televisão portuguesa. Um êxito de mercado portanto, normal, atendendo a uma sociedade entorpecida com poucas causas e muito vocacionada para produzir a baboseira fácil de lucro assegurado pela labreguice mais lorpa. No caso da RTP “os contra” eram uns inenarráveis tipos de extrema-direita com uma linguagem digna do cabaré Elefante Branco (“pois é, é uma chatice o ditador ter de vender o petróleo a alguém”; Fidel é um “marajá” que reina sobre a miséria do povo") e os “prós” (Chavéz presume-se) fizeram-se representar por um delegado da Partex (a empresa petrolifera da Gulbenkian), a social democrata neoliberal Ana Gomes e um jornalista espanhol que parte do principio que Cuba é uma ditadura. (Ora com amigos destes,,,). Esteja o Presidente da Venezuela em Santiago do Chile, Ryad, Lisboa, Teerão, Paris ou Caracas, todos os editoriais, cabeçalhos, notas de imprensa das centrais noticiosas, oposições de lideres desempregados – todas as baterias se põem a disparar contra Hugo Chávez de forma sincronizada atendendo à mesma ordem militarizada.

O modo americano de ser enformado

O escritor Tariq Ali é um atento observador da televisão. Ele notou que a “...história moderna é ignorada na prática pela televisão. No noticiário das redes americanas, não há quase nenhuma cobertura do resto do mundo; nem mesmo de paises vizinhos como o México ou de continentes quase inteiros como a América Latina. Eles têm uma cultura essencialmente provinciana que gera a ignorância. Tal ignorância é muito útil em tempos de guerra, porque pode incitar à fúria rápida em populações mal informadas e levá-las à guerra contra qualquer país” (ler mais)

A ideologia liberal insiste em que a abordagem na sociedade da consciência de solidariedade é impossivel como atitude dominante, porque os seres humanos são perpétua e primariamente motivados pelos incentivos materiais individuais. Mas o processo revolucionário em que a Venezuela embarcou desde 1999 está a mudar a percepção do miolo (neo) liberal adquirido, que pensa ser a limitada visão do interesse-próprio uma condição imutável da condição humana. Porém no processo em curso na Venezuela as colectividades unem-se em torno das “misiones” que têm uma gestão participativa na nova sociedade que se pretende criar – onde o dinheiro do petróleo não serve para ser expropriado pelas multinacionais que o enfiam directamente nos circuitos financeiros internacionais, antes pelo contrário, esse dinheiro é usado em programas sociais em proveito próprio das populações. No restante, e é a única diferença (e não poderia ser de outra maneira) em face do cerco, a sociedade mantém-se com uma estrutura capitalista, conquanto a nova Constituição a referendar no próximo dia 2 de Dezembro, reconheça agora cinco tipos diferentes de propriedade (e não apenas a dos interesses monopolistas dos patrões da banca e da indústria primária). Há quem (de má-fé) fique surpreendido; Ora quando se pensava que as teses do pensamento único, do fim da história e do choque de civilizações tinham acabado o seu caminho triunfante eis que a hegemonia neoliberal é questionada pelo ressurreição da OPEP (justamente uma aliança de civilizações que os imperialistas gostariam que tivesse sido bem enterrada após a crise petrolífera de 1970 que obrigou ao Consenso de Washington e à fuga da economia americana do padrão-ouro) - aliança Chavéz-Amhadinejad que põe em causa a segurança energética num Ocidente prepotente, e porque parasitário, decadente.

Depois do crash da “nova economia” tipo especulativa fraudulenta Enron que elegeu Bush em 2000 (e o levou a safar-se da crise via 11 de Setembro), os investidores enterraram literalmente os capitais que não se evaporaram em tijolos. Agora, uns triliões ficticios mais à frente é a “bolha imobiliária” que estoira. O dólar está em queda livre, da crise financeira nem as perdas se conseguem contabilizar, a única certeza é que virão, cada vez mais, ainda piores noticias. Os bancos comerciais pedem capitais de salvação aos bancos centrais ao juro de 6,75 por cento (caso do Barclays) quando os clientes lhes estão a pagar os créditos a 4 por cento: qual é o negócio? – o negócio é dar um pontapé na crise lá mais para a frente, e haja fé em deus. Na verdade a esperança é que nesta nova destruição de valores para que não existe mercado os capitalistas possam reconverter os investimentos no sector das empresas de energia, criando aí nova bolha inflacionária (no negócio de vender aos pobresa salvação climática” e ajuda principescamente remunerada nas catástrofes). E, diga-se de passagem, ao ajudar à diversificação da rede energética global, até certo ponto, Chávez integra-se perfeitamente na nova lógica de investimentos financeiros no capitalismo ambiental.

"Parem de citar as leis, porque nós é que temos as espadas"
Sila, ditador romano (138 aC - 78 aC)

No final da 1ª guerra do Golfo o custo do petróleo era de 30 dólares por barril de crude. Com o preço de 100 dólares por cada barril neste final de ano de 2007, em finais da década de 60 podiam-se comprar 25 barris. A inflação continuaria assim “eternamente”, não fora o caso da Venezuela e o Irão, dois dos principais produtores mundiais, se recusarem a ser um fornecedor incondicional do mercado nas condições impostas pelos decisores imperialistas. Infelizmente para eles o crash monetário do sistema de pirâmide em curso e a implosão da economia global vai fazer lembrar a “grande recessão de 1929” como um resfriado da Dona Branca, ou seja, como deixa de haver dinheiro para pagar aventuras lá se esgotará à mingua a tentativa de hegemonia global. Não sem que antes se corra o risco de uma tenebrosa confrontação entre mini-potências. Pela parte que toca aos Estados Unidos o ataque ao Irão só ainda não teve lugar devido a divergências profundas entre o comandante William Fallon do CENTCOM que se recusa a sacrificar a V Esquadra fundeada no Bahrein e o General David Paetreus Comandante das tropas no Iraque que o tem acusado publicamente de ser um medricas.

* livro de leitura obrigatória: "Surviving the Cataclysm" - William G. Tarpley

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