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sábado, março 01, 2008

«Se eu mandasse neles, os teus trabalhadores/ Seriam uns amores/ Greves era só das seis e meia às sete/ Em frente ao cacetete/ Primeiro de Maio só de quinze em quinze anos/ Feriado em Abril só no dia dos enganos/ Reivindicações quanto baste mas non tropo/ Anda beber mais um copo»
Sérgio Godinho, em “Arranja-me um emprego”

As Ovelhas vão pedir a intervenção do Lobo

Perante o que considera ser um “quadro de grande instabilidade nas escolas” e a “panela de pressão” em que se transformou o sistema educativo, a plataforma sindical que reúne as dez organizações representativas da classe considera que é “fundamental, urgente e inadiável” a intervenção do Presidente da República. Vamos pedir uma audiência ao Presidente da República, para que fique na posse de todos os dados sobre o que se passa na Educação. Respeitaremos a sua decisão, mas queremos prestar todos os esclarecimentos”, anunciou ontem Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, falando sobre a “Marcha da Indignação” marcada para dia 8 de Março onde são esperados 25 mil professores com o apoio de todos os sindicatos.

«Tu precisas tanto de amor e de sossego/ Eu preciso dum emprego/ Se mo arranjares eu dou-te o que é preciso/ Por exemplo o Paraíso»
«Se meto os pés para dentro, a partir de agora/ Eu meto-os para fora/ Se dizia o que penso, eu posso estar atento/ E pensar para dentro»

Ainda não perceberam? – Cavaco Silva é o garante que zela para que o programa de desmantelamento do sistema de Educação no Estado Social seja cumprido. Cavaco foi o arquitecto das auto estradas medidas ao quilómetro como sinal de “desenvolvimento” (embora só tenham um sentido: para importar bens supérfluos ou outros que poderíamos facilmente produzir) e dos centros comerciais (que vendem fundamentalmente bens produzidos e comercializados por empresas estrangeiras) que desmantelaram o comércio tradicional nos centros das nossas cidades e reduziram os empregos disponiveis a ordenados mínimos e por turnos. Foi este o modelo da tardia adesão portuguesa ao capitalismo europeu. Acontece que é este paradigma de desenvolvimento que se encontra em falência. Do mesmo problema, herdado de 30 anos de governos do Bloco Central, de falta de estabilidade, e de precariedade cada vez mais acentuada, padece não só a classe dos professores, mas sim toda a sociedade. Ou mudamos todos juntos o regime, ou os eventuais 25 mil professores reduzem-se à sua insignificância. Como aliás tem acontecido até aqui.

recrutados para gerir a falência do sistema

Durante a ditadura “o espírito de quartel reinou soberanamente nas escolas. Ali se desfilava a marcar passo, obedecendo aos vigias, a quem só faltava o uniforme e as divisas. A configuração do edifício obedecia à lei do ângilo recto e da estrutura rectilinea. Deste modo se empregava a arquitectura a vigiar os desvios de comportamento, graças à rectidão duma austeridade espartana.

Raoul VaneigemDesmilitarizar o Ensino

Até aos anos 60 a instituição educativa continuou modelada por estas virtudes guerreiras, segundo as quais os jovens deviam ir morrer nas fronteiras, de preferência a entregarem-se aos prazeres do amor e da felicidade. Semelhante prescrição caíria hoje no ridículo, mas apesar da mutação iniciada em Maio de 1968 e do descrédito em que se vê o exército numa Europa sem combates (com excepção de algumas guerras locais em que desdenha intervir), seria excessivo pretender que caiu em desuso a tradição da imposição vociferada, do insulto ladrado, da ordem sem réplica e da insubordinação que a isso constitui apropriada resposta.
A quase absoluta autoridade de que o mestre se vê investido está mais ao serviço duma expressão de comportamentos nevróticos do que da difusão de um qualquer saber. A lei do mais forte sempre fez da inteligência uma das armas da estupidez. Há muitos, sem dúvida, que mostram má vontade perante o facto de apenas terem direito a ficar calados. Mas enquanto uma comunidade de interesses não puser no centro do saber as inclinações, as dúvidas, os tormentos e os problemas que cada qual vai sentindo no dia a dia – ou seja, naquilo que compõe a parte mais importante da sua vida – só a sobranceria e o desprezo poderão transmitir mensagens, cujo sentido não nos diz verdadeiramente respeito enquanto seres de desejos”

(continue a ler "Aviso aos alunos do básico e do secundário")
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