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terça-feira, novembro 04, 2008

o que mata os nossos mortos é o esquecimento

Durante décadas os marxistas têm sido censurados

e o marxismo tem sido vilipendiado; não é preciso ir muito longe: os manuais escolares ensinam aos nossos adolescentes que “o comunismo é uma doutrina que pretende tomar o poder pela força para instaurar uma ditadura” – o esquecimento, pela parte dos Poderes antidemocráticos constituídos, dos métodos de análise dialéctica de Karl Marx tem sido responsável pelos muitos crimes económicos que têm levado à miséria extrema muitos milhões de pessoas

Giorgio Del Vecchio
: “o crime não é simplesmente um facto individual pelo qual deve responder o seu autor, de modo exclusivo, para o reparar perante a sociedade; é também - e precisamente nas formas mais graves e constantes - um facto social que revela desequilíbrios na estrutura da sociedade onde o crime se produz. Em consequência, suscita problemas muito além da pena e da reparação devidas pelo criminoso”

¿Vincit Omnia Veritas?

Com o facínora Bush e os seus acólitos incólumes e de saída (e outros insignes-ficantes), como se tem perversamente dito por aí agora que a teologia da AltaFinança faliu só poderemos ter fé materialmente sustentável nas mensagens de Deus, (se se vier a comprovar que tal etérea entidade existe e pode ser responsabilizada pelos concretos males do mundo). Na falta de certezas definitivas, para já vem novo pedido de desculpas pelas atrocidades do capitalismo através da pena iluminada do arcebispo de Munique --» o cardeal Reinhard Marx, 55 anos, secretário da Conferência Episcopal alemã sustentou numa entrevista ao “Der Spiegel” (“O Espelho”, numa clara analogia ao conto da Alice das Maravilhas no outro lado do Espelho:-) que na sua análise ao capitalismo Karl Marx tinha razão. O fundador do Comunismo, pois é preciso não esquecer que é dele que se trata, “não está morto e há que o tomar a sério” - “O mundo está a ser sacudido por uma enorme crise económico- financeira que dará vida a outra época e a um novo capitalismo refundado, mudança que a Igreja enfrenta como o devir da sua “doutrina social” – a minha homilia, brevemente posta em livro,

o Capital em Defesa do Homem” é uma “crítica ao capitalismo, porque um capitalismo desumanizado sem um quadro ético é um inimigo do género humano (...) um sistema sem solidariedade não conhece a moral nem tem futuro, pelo que há que voltar de novo à obra de Karl Marx “que nos ajuda a entender as teorias da acumulação capitalista e o mercantilismo. O nosso dever é interpretar de forma conveniente as ideias marxistas”

Mais uma canibalização do Marxismo em vista, a camaleónica ICAR virá mais uma vez à boleia dos príncipes do novo paradigma, como se a Igreja fosse um poder efectivamente separado do Estado (ou a formação de gestão dos “bispos” da globalização fosse separada das fundamentalistas universidades católicas) – “o capitalismo deve ter uma visão ética e social para uma reforma sensata dos sistemas financeiros” e recorda o arcebispo que “a especulação selvagem é pecado; porém denunciar o capitalismo não significa deixar livre de culpa o populismo das esquerdas” (como por exemplo, Tony Blair o nº 2 da “internacional socialista”, ou Bill Clinton, que chegou a ser nomeado para fazer parte da grotesca congregação, lembramos nós)












Certamente foi com apelativas e sonsas teologias deste género que o banqueiro judeu-alemão Jacob Fugger, “o Rico” (conselheiro “técnico” da Corte no tempo em que esta era exclusiva depositária da Religião) vendeu ao Principe Perfeito dos descobrimentos os créditos financeiros com que o Reino se endividou na epopeia do modo mercantilista italiano, antes que visse que a ética capitalista do protestantismo aplicada ao trabalho intensivo dos paises do norte da Europa se revelaria muito mais rentável. Ainda Marx não tinha nascido e já o conto do vigário usando a alienação religiosa fazia a sua carreira à descoberta das Indias ocidentais

"Infanta Gatinhando" - José Santa-Bárbara
óleo sobre tela 1999 - Fundação José Saramago

o Bispo e o frade sacristão zelam pelas boas graças do escrivão do Reino, em grande azáfama congeminando a contabilidade com o espertalhão do Banqueiro; o cão atónito espanta-se com as patuscas actividades destes seres estranhíssimos. Saramago e os malteses da Azinhaga estão à coca, no portal emoldurado ao fundo. O observador que se fixar exclusivamente na personagem principal que dá o nome ao quadro tá lixado: não percebe nada.

* relacionado:
Michel Cool: “Crise no Catolicismo Europeu” – O “combate cultural” dos episcopados
publicado no “Le Monde Diplomatique”, edição de Setembro 2008
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