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quarta-feira, outubro 21, 2009

da credibilidade da Vulgata católica

"Pela fé, abel ofereceu a deus um sacrificio melhor do que o de caim. por causa da sua fé, deus considerou-o seu amigo e aceitou com agrado as suas ofertas. e é pela fé que abel, embora tenha morrido, ainda fala"
Hebreus, 11,4, Livro dos Disparates

e o senhor disse a caim: «Porque estás zangado e de rosto abatido? Se procederes bem, certamente voltarás a erguer o rosto; se procederes mal, o pecado deitar-se-á à tua porta e andará a espreitar-te. Cuidado, pois ele tem muita inclinação para ti, mas deves dominá-lo»

a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”, o maior embuste alguma vez vendido à Humanidade “é um mau exemplo, trata de perseguições, incesto, assassínios”. Terá Saramago razão apenas nestes pontos? então e o resto, a fraude monumental? – dito de outro modo, a Biblia é uma colecção de histórias romanceadas pelos Poderosos que inventaram Deus para controlar a mente e o corpo dos que não se submetem à servidão

“The Bible? it is full of interest. It has noble poetry in it [and] a wealth of obscenity.” (Mark Twain) - procurem então os simples e bem intencionados a poética, ou a parte divertida dos textos, que as há em abundância, e passemos ao making-of do Livro, porque mais urgente é decerto compreender a obscenidade

Na colecção de manuscritos que vêm compondo a Bíblia os primeiros conhecidos datam do ano em que o bispo Eusebio de Vercelli (283-371) os mandou garatujar. Tinham então, nessa época, este aspecto deveras incisivo e concludente:

Estes escritos primitivos, inspirados em contos de tradição oral chamados “as Boas Novas” (traduzindo: os “Evangelhos”) foram passados a caracteres escritos cerca do ano 180 DC, e começaram a ser chamados Codex Vercellensis estando guardados na Catedral de Vercelli, perto de Milão. Fazem parte da colecção de manuscritos conhecidos por “Vetus Latina” o nome dado a textos em latim antigo mais tarde compilados na versão da Bíblia de São Gerónimo (382-405 DC) que, finalmente, constituem o modelo standart usado pelos cristãos falantes de línguas latinas no Ocidente. Se visitarmos a Igreja Ortodoxa Bizantina, na Grécia, na Turquia ou na Rússia, existem outras fontes e ícones mitológicos para a mesma presumível passagem de um personagem chamado Cristo pelo planeta.

Existe um herói análogo na mitologia helenista da Sirach que inspirou a escrita da epopeia do argonauta Jason. Porém num intervalo de oportunidade, como dizem os gestores contemporâneos, o nome do velho Jesus faz a sua aparição em cena:

No principio do século V a versão definitiva da dita Bíblia passou a ser conhecida por a Vulgata, cuja escrita foi comissariada pelo Papa Dâmaso I (366-384 DC) – um patrício (posteriormente passado a Santo) que ficou também famoso pelo cognome 'matronarum auriscalpius' por ter convertido as “grutas sagradas” de Roma em bordéis – tudo isto durante o processo da cisão entre o Concilio de Niceia (325 DC) e o Concilio de Constantinopla (381 DC)

São Gerónimo no seu escritório; uma tela encomendada
pela ICAR a Domenico Ghirlandaio nos bons tempos do
Renascimento quando ainda havia rentabilidade no negócio

Mas foi a re-escrita da chamada Bíblia do Rei Jaime (King James Bible) em Inglaterra no século XVI (1611) que incluía “os evangelhos” considerados apócrifos pela reaccionária Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), que veio trazer um novo incremento à lenda que transmitia a mensagem humanista da passagem de (Jesus) Cristo pela Terra. Expurgada da palha esotérica de origem latina, a interpretação que foi dada pelos padres anglicanos aos preceitos de conduta advogados pela prática do cristianismo era de tal forma poderosa que, muitos consideram, foi a perspectiva de prática efectiva desses mandamentos que conduziu directamente à primeira grande revolução social na Europa: a Revolução Inglesa de 1640 liderada por Oliver Cromwell na distribuição de terras aos deserdados dos feudos e na contenção aos privilégios dos novos burgueses
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