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segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Trabalho, Capital e Religião

o Mundo Secreto da Opus Dei

“Deus colocou o homem no jardim do Paraiso para que o cultivasse” (o 15º verso do Génesis) de onde se poderia concluir que tinha criado o homem para trabalhar.

Assim a mensagem era simples: santificar o trabalho, santificar-se através do trabalho e santificar os outros no seu trabalho. O trabalho estava arreigado no âmago da condição humana. Fazia parte do plano de Deus. O padre Josemaria Escrivá de Balaguer passou-os mais tarde em 1939 ao papel no livro “Caminhos”, um manual de 999 preceitos de boa conduta para cristãos. O principio de uma prática doutrinária saída da vitória do Fascismo em Espanha que se tornaria universal. A missão da Opus Dei pouco tinha a ver com salvar almas de individuos. Tinha a ver com salvar o patrão do Pai Escrivá, a Igreja Católica Romana em franco declinio. Tratava-se de criar uma verdadeira presença católica na cidade secular de Roma através da “ocupação de lugares de responsabilidade”.

A proposta foi uma correcção importante aos principios teológicos estabelecidos no século XIII por Tomás de Aquino (1225-74). Aquino defendia que o trabalho, em todas as suas formas, fora uma condição da queda em desgraça do homem e portanto um impedimento para a santidade. Mas uma vez que o trabalho era necessário tinha de ser tolerado enquanto bens e serviços fossem vendidos a um preço justo. Este principio foi rearfirmado pelo Concilio de Trento (1545-63) e declarado doutrina Católica oficial por Leão XIII em 1879. (Apenas e só quando a época das Revoluções operárias com o desenvolvimento do capitalismo de mercantil para industrial começaram a pôr em causa o estatuto dos Reis e dos seus séquitos como representantes de Deus na Terra - sob o slogan Pátria, Monarquia, Religião). Para muitos Deus era uma das primeiras baixas da alteração da ordem mundial. Para Nietzche “o maior acontecimento dos tempos recentes – Deus está morto – era que a crença no Deus cristão já não é sustentável; e isto começava a lançar as primeiras sombras sobre as classes dominantes.
De acordo com a “revelação” do fundador da Obra de Deus, do latim Opus Dei, Tomás de Aquino tinha-se enganado. Agora Escrivá não estava a agarrar-se a qualquer mito obscuro. O espectro do comunismo pairava por toda a Europa e os capitalistas estavam em pânico. Entre 1902 e 1923 o rei de Espanha Afonso XIII tinha ordenado trinta e três mudanças de governo, num país onde 60 por cento da população era analfabeta, a Igreja educava os filhos dos ricos, enquanto os pobres enfrentavam condições extremas de servidão. Na Rússia, no final da degradação deixada pela guerra, a vitória da Revolução dos Sovietes tinha cortado o pescoço a um possivel desenvolvimento do capitalismo; os Romanov foram assassinados e Churchill comentou que o massacre tinha desencadeado uma nova espécie de barbarismo no mundo. Em Fátima no ano de 1917 também a miserável e iletrada população rural tinha começado a ter visões celestiais para se furtar à triste realidade mantida em segredo, de que só o trabalho cria valor.

No mundo em criação da Opus Dei ao afirmar que o trabalho devia ser colocado à cabeça da vida Cristã, e que um leigo podia atingir a perfeição Cristã por meio da excelência profissional, o padre Escrivá estava a desbravar os próprios alicerces da Igreja de forma a re-orientar e reforçar os sistemas teológicos dela. Escrivá de Balaguer (que se auto flagelava com o cilicio) acreditava que a falha na filosofia de Aquino impedia a capacidade da Igreja de satisfazer as exigências espirituais de uma sociedade moderna e industrializada (...)
Enquanto Escrivá faria da tarefa de oposição à disseminação do Comunismo um dos principais objectivos da sua vida, para garantir que não haveria um regresso à tríade demoníaca, Anarquismo Liberalismo e Marxismo, o Papa Pio X tinha declarado guerra ao Modernismo espalhando o terror anti-liberal pela “enciclica Pascendi”: todo aquele que estivesse contaminado pelas “ideias modernas” seria excluido dos serviços públicos ou do ensino. Foram montadas redes de informadores secretos. Quem se opusesse à “Pascendi” seria excomungado.
Desde o começo, a Opus Dei levou uma existência por camadas, apenas com a camada exterior para consumo das massas; as sucessivas camadas interiores eram reservadas para postos mais altos na hierarquia da seita. A preocupação principal era restituir à Igreja um papel central na sociedade. Isto permanece o âmago da Obra: “a tarefa de colocar Jesus i.e a Igreja no cume de toda a actividade humana através do mundo”. Fazer isto requer uma milícia dedicada, disciplinada – tropas de vários postos e posições que, pela santificação do seu trabalho, santificam i.e convertem outros e santificam o local do trabalho – sob o manto diáfano da alienação religiosa os interesses do Capital deixariam deste modo de ser escrutinados pela visibilidade pública

“Vede, eu enviei-vos como carneiros no meio de lobos por isso sede astutos como serpentes e inocentes como pombas” Mateus 10:16

A frase “Dádiva de Deus à Igreja do Nosso Tempo” foi usada por um dos sete juizes da Congregação das Causas dos Santos ao recapitular as suas razões para apoiar a beatificação de São José Escrivá de Balaguer por João Paulo II, um papa que já foi entronizado pela Opus Dei com o trabalho de bastidores do bispo alemão Ratzinger. O padre Vladimir Felzmann, próximo de Basil Hume, arcebispo de Westminster, sustenta que a Opus Dei é o melhor meio que a Igreja Católica Apostólica Romana encontrou para recriar as Ordens Religiosas Militares da Idade Média.

Influência da Espanha secular na ICAR

O General Primo de Rivera ascendeu ao poder em Espanha pelo golpe de Estado de 1923. Josémaria Escrivá foi ordenado padre em 1925. Na época um obscuro major de seu nome Francisco Franco y Bahamonde atacava o baluarte do berbére Abd el-Krim nas montanhas de Marrocos, onde conhece o jovem tenente Luis Carrero Blanco. Um dos mais íntimos amigos do futuro ditador, o coronel Juan de Yague, então no comando da Legião Estrangeira Espanhola seria o primeiro a utilizar a palavra “Cruzada” para definir o levantamento nacional-fascista: “A nossa guerra não é uma guerra civil... Sim, a nossa guerra é uma guerra religiosa. Nós que combatemos, sejamos Cristãos ou Muçulmanos, somos soldados de Deus e não lutamos contra homens mas contra o ateismo e o materialismo”. Diria Manuel Azaña: “se a força fascista triunfar contra a República regressaremos a uma ditadura militar eclesiástica do tipo que é tradicional em Espanha... Haverá sabres, paradas militares e procissões em honra da Virgem do Pilar. O país não é capaz de mais nada”. Dir-se-ia hoje, a Ibéria não é capaz de mais nada?

notas
Este post segue o teor do livro de Robert Hutchison "O Mundo Secreto do Opus Dei - Preparando o confronto final entre o Mundo Cristão e o Radicalismo Islâmico". Outra literatura sobre os temas versados:
Charles Raw “The Moneychangers” (sobre o escândalo do Banco Ambrosiano)
Raanan Rein "Franco, Israel y los judíos"
Michael Walsh “The Secret World of Opus Dei”
Gerald Brennan “The Spanish Labyrinth”
Paul Johnson “History of Modern World”
Harry Gannes/ Theodore Repard “Spain in Revolt”
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3 comentários:

SisinWah disse...

Amen!

Karocha disse...

Não sei o que é pior se a Opus Dei ou a Aventalada!

Anónimo disse...

juan yague blanco quería que se investigara el asesinato de gabaldón