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sábado, abril 03, 2010

Hey Barack! qual é a parte do “Ilegal” que não compreendes?

Esqueça-se o momento da recente intenção de construção dos novos colonatos de Israel para mais 6.000 familias e lembremo-nos que quase meio milhão de Israelitas vivem em mais de 100 colonatos na Margem Ocidental e Jerusalem Leste. É ilegal construir colonatos em territórios conquistados e a continuada existência nesses locais dessas comunidades é uma chapada na cara dos antigos proprietários dessas terras. Apesar desta evidente e clamorosa realidade, a noção que tem sido veiculada é que os Estados Unidos estão a pressionar Israel para que remova os colonatos existentes. Quando de facto essa intenção nem sequer entra na equação.

10 Razões pelas quais Jerusalem não pertence a Israel (Juan Cole)

“O 1º ministro Israelita Benjamin Netanyahu disse na semana passada na associação de Negócios Públicos Israelo-Americanos (AIPAC - American Israel Public Affairs) que “Jerusalem não é um Colonato”. Continuou afirmando que há uma ligação histórica entre o povo judeu e a terra de Israel que não pode ser negada”. Acrescentou também que ninguém pode negar a ligação entre os judeus e Jerusalem, insistindo: “o povo judeu construiu Jerusalem há 3.000 anos e o mesmo povo judeu está a construi-la hoje como a capital de Israel”. Ele disse isto perante os mais altos representantes politicos norte americanos e foi freneticamente aplaudido por 7.500 pessoas, espectadores activistas que têm assegurado a prossecução das politicas de todos os governos de Israel desde a conquista de Jerusalem em 1967 na Guerra dos Seis Dias

Netaniahu misturou romantismo, clichés nacionalistas com uma série de dissertações históricas falsas. Mas ainda mais importante foi o que foi deixado de fora, a citação descuidada e distorcida da história abstendo-se de considerar legislações, direitos ou apenas a decência comum aplicada sobre outros, que não ao seu próprio grupo étnico. Aqui estão pois as razões pelas quais Netaniahu está profundamente errado, e porque é que Jerusalem Leste não lhe pertence.

1. Segundo a Lei Internacional, Jerusalem Oriental é um território ocupado, assim como partes da Margem Ocidental da Cisjordânia que Israel unilateralmente anexou ao distrito de Jerusalem. A Quarta Convenção de Genebra de 1949 e as regulamentações de Haia de 1907 proibem a forças ocupantes alterar o modo de vida de populações civis cujos territórios sejam ocupados, e proibem a transferência e colonização por povos oriundos do país ocupante dos territórios ocupados. A expulsão de Palestinianos das suas casas em Jerusalem Leste, a usurpação de propriedades palestinianas ali, e a construção de colonatos Israelitas em terras da Palestina são todos actos de violação grosseira da lei internacional. A reclamação de Israel de que não estão a ocupar terrenos na Palestina porque os palestinianos não constituem um Estado é cruel e tautológica. A afirmação de que estão a construir em terrenos desocupados é desconcertante. O meu quintal está vazio, mas isso não dá a Netanyahu o direito de pôr lá um complexo de apartamentos.

2. Os governos israelitas não têm sido de facto consistentes acerca do que fazer com Jerusalem Leste e a Margem Ocidental, ao contrário do que Netaniahu afirma. O Plano Galili para os colonatos na Cisjordânia foi adoptado em 1973. O primeiro ministro Yitzhak Rabin cedeu a compromissos como parte do processo de paz nos Acordos de Oslo abrindo mão de territórios palestinianos por forma a garantir o Estado da Palestina, promessas pelas quais foi assassinado por elementos da extrema direita israelita (elementos esses que estão agora a apoiar o governo de Netanyahu). Não muito antes do ano 2000, o então primeiro ministro Ehud Barak afirmou ter dado o seu consentimento verbal que os Palestinianos poderiam ter toda a Cisjordânia e poder-se-ia também negociar um acordo pelo qual Jerusalem Leste poderia ser a capital do Estado da Palestina. Netanyahu tenta dar a impressão que a politica dos extremistas do Likud tem sido partilhada por todos os anteriores governos, mas tal simplesmente não é verdade

3. O romantismo nacionalista imagina umpovo” como uma entidade eterna, como tendo uma ligação eterna com um especifico pedaço de terra. Esta forma de pensamento é fantasiosa e mitológica. Os povos formam-se e mudam e por vezes deixam de o ser; pense-se naqueles que tiveram descendentes os quais abandonaram a religião dos seus antecessores, ou a etnicidade ou a linguagem. Os seres humanos mudam-se freequentemente e podem não estar directamente ligados a determinado território de um modo exclusivo, desde que muitos grupos têm vivido em variadas parcelas de terra. Jerusalem não foi fundada por judeus e/ou aderentes à religião judaica. A cidade foi fundada entre o ano 3.000 e 2.600 a.C. por um povo semita-ocidental, possivelmente os Cananitas, os ancestrais comuns dos Palestinianos, Libaneses, muitos grupos étnicos da Siria e Jordanos, entre os quais também muitos deles viriam a ser judeus. Mas quando a cidade foi fundada “os judeus” ainda não existiam.
4. Jerusalem foi fundada em honra do antigo deus Shalem. A palavra não significa “Cidade da Paz” mas antes qualquer coisa como “os construtores do lugar de Shalem”

5. O “Povo Judeu” não construiu Jerusalem 3.000 anos atrás, e/ou até 1.000 anos antes de Cristo. Primeiro que tudo, não é claro quando tomou o Judaismo uma forma consistente, como religião monoteista centrada na adoração de um deus único. Tal aparece-nos como sendo um desenvolvimento mais tardio, na medida que não existem evidências de adoração de mais que as divindades canaanitas que foram encontradas em sitios arqueológicos desde o ano 1.000 antes de cristo. Não existiu geograficamente nenhuma invasão da Palestina a partir do Egipto por antigos escravos no ano 1.200 a.C. As pirâmides tinham sido construidas muito antes e não foi usado trabalho escravo. A crónica dos acontecimentos do reinado de Ramsés II gravadas nos muros de Luxor nada contam acerca de de qualquer grande revolta de escravos ou incursões pelos mesmos dentro da peninsula do Sinai. As fontes egipcias nunca mencionam “Moisés” ou “as doze pragas”. Os judeus e o judaísmo emergiram a partir de uma certa classe social dos Canaanitas por um periodo de séculos, mas dentro da Palestina.

6. Jerusalem não só não foi construida pelo então não existente “povo judeu” no ano 1.000 a.C., como tampouco o sitio de Jerusalem não era até habitado nessa altura da história. Jerusalem aparece como tendo sido abandonada entre o ano 1.000 e 900 a.C., as datas em que seguindo a tradição biblica foi unificado o Reino sob David e Salomão. Logo, Jerusalem não era ainda nada parecido com a “cidade de David”, dado que não existia cidade quando e onde ele dizia que tinha vivido. Não existem sinais de magnificos palácios ou sequer os grandes testemunhos encontrados pela arqueologia deste periodo; e as tabuinhas cerâmicas Assirias, nas quais se gravaram ainda menos acontecimentos sobre o Médio Oriente, tais como as acções de Rainhas da Arábia, nada registam acerca do “grande reino de David e Salomão” em terras que geograficamente pertencessem à Palestina.

Hoje e sempre: guerras de Conquista

7. Desde que a arqueologia não mostra a existência de “um reino judeu” ou quaisquer reinos no assim chamado “Periodo do Primeiro Templo” (1), não fica claro quando exactamente o povo judeu terá exercido efectivamente o seu dominio em Jerusalem, excepto durante a vigência do Reino dos Hasmoneus. Os Assírios conquistaram Jerusalem em 722. Os Babilónios tomaram a cidade em 597 e governaram-na até que eles mesmo foram conquistados em 539 a.C. pelos Acadianos, antepassados da antiga Pérsia (hoje Irão), os quais governaram Jerusalem até Alexandre o Grande ter conquistado todo o Levante no ano 330 a.C. Os descendentes de Alexandre, a dinastia dos Ptolomeus governam Jerusalem até ao ano 198 a.C. até que outros descendentes de Alexandre, os Selêucidas, tomaram a cidade. Com a revolta dos Macabeus em 168 a.C. o Reino Judeu-Hasmoniano governa Jerusalem até ao ano 37 a.C. sendo rei Antigono II Matatias, o último hasmoneano, destronado e expulso de Jerusalem com a ajuda da dinastia dos Partos no ano 40 a.C. Herodes governou desde 37 a.C. até os Romanos conquistarem a terra a que se passou a chamar Palestina no ano 6 d.C. (ou E.C., a Era Comum que os cristãos designam por D.C.).

Os Romanos e depois o Império Romano do Oriente de Bizâncio dirigiram Jerusalem desde o ano 6 da era comum até 614 E.C., quando o Império Sassânida Iraniano conquistou a cidade, governando-a até 629 EC quando os Bizantinos a tomaram de volta.
Os Muçulmanos conquistaram Jerusalem em 638 e governaram-na até 1.099 quando os Cruzados a tomaram. Os cruzados mataram e expulsaram judeus e muçulmanos da cidade. Mas os muçulmanos sob o comando de Saladino reaveram-na em 1.187 e deram permissão aos judeus para voltarem. E assim os muçulmanos a governaram até ao final da 1ª Grande Guerra Mundial, ou seja, por um periodo total de cerca de 1.192 anos. Os aderentes ao Judaismo não fundaram Jerusalem. A cidade existe talvez por 2.700 anos antes que qualquer coisa parecida que possamos reconhecer como Judaismo tivesse aparecido. O governo dos Judeus pode não se ter verificado por mais de um periodo de 170 anos, ou seja, durante o reinado dos Hasmoneus.

8. Consequentemente, se a construção histórica e a ligação histórica com Jerusalem podem estabelecer a soberania sobre Jerusalem que Netanyhau reclama, existem grupos étnicos que podem reclamar um muito maior direito sobre a cidade:
a) os Muçulmanos, que a governaram por 1.192 anos
b) os Egipcios, que a governaram como Estado vassalo por muitas centenas de anos no segundo milénio antes de Cristo.
c) os Italianos, que a governaram por cerca de 444 anos até à queda do Império Romano no ano 450.
d) os Iranianos, que governaram por 250 anos sob a dinastia Acadiana, por três anos sob os Partos (não considerando que o reino Hasmoneu era também seu vassalo) e por mais 15 anos sob a dinastia Sassânida.
e) os Gregos, que governaram a cidade por 160 anos, se contarmos os Ptolomeus e Selêucidas como povos gregos. Se os considerarmos Egipcios e Sírios, isso aumenta os direitos do Egipto e introduz uma reevindicação da Síria.
f) os Estados sucessores dos Bizantinos, os quais tanto podem ser os Gregos como os Turcos, que governaram 188 anos; pensando considerar a herança Grega e somarmos o tempo do periodo das dinastias helenisticas, dará aos Gregos um tempo de governo de 350 anos sobre Jerusalem.
g) Existe também um direito do Iraque baseado na posse da cidade pelos Assírios e Babilónicos, assim como talvez pelo governo dos árabes Ayyubids (a dinastia de Saladino), que eram Curdos do Iraque.

9. Com certeza, os Judeus são historicamente conectados com Jerusalem pelo "Templo", qualquer que tenha sido a data em que essa ligação possa ter existido. Mas esse elo de ligação apenas pode ter sido efectiva quando os Judeus não possuiam o controlo politico da cidade, sob governos Iranianos, Gregos ou Romanos. Isso não pode todavia ser utilizado para fazer a reclamação de poder politico sobre toda a cidade.
10. Os Judeus de Jerusalem e do resto da Palestina não foram pela maior parte do tempo obrigados a sair dos sitios onde viviam até à falhada revolta de Bar Kochba contra os Romanos no ano 136 C.E. Eles continuaram a viver e trabalhar as terras na Palestina sob os governos de Roma e de Bizâncio. Gradualmente foram-se convertendo ao cristianismo. Depois de 638 quase todos (excepto uns estimados 10 por cento) converteram-se gradualmente ao Islão. Na actualidade os Palestinianos são os verdadeiros descendentes dos antigos Judeus e têm todo o direito de viver onde os seus ancestrais sempre viveram durante séculos

Salomão e a Rainha de Sabá, óleo sobre tela
Giovanni Demin (1789-1859)

(1) Segundo as descrições da biblia hebraica, as actuais reconstituições mostram um templo de configuração quadrada, enquanto as gravuras do periodo medieval o descreviam como de planta circular. Mas o que decerto uma investigação mais detalhada revelará é que o Templo apareceu "concretamente" pela primeira vez quando os grandes arquitectos da dívida do homem para com Deus resolveram fundar a Grande Loja cuja constituição foi promulgada em França no ano maçónico de 5.723 (ano 1723 da era comum), herdeira da geometria especulativa de Villard de Honnecourt (1250) e do código das profissões de William Shaw (a Guilda dos artifices Pedreiros de 1598). É no moderno emblema da Maçonaria que se apoia a sabedoria universal e a luz dos construtores sobre as duas colunas do Templo de Salomão - ou seja, a ruptura entre o conhecimento alienado pela religião e a ética. Fiat lux e um mundo novo foi criado...
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