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segunda-feira, maio 24, 2010

as 1001 maneiras de cozinhar comunistas

“Não pensamos que a sociedade esteja dividida entre bons e maus. A divisão não é essa. Dividimos o mundo, fundamentalmente, entre classes, entre exploradores e explorados. Uns que vivem do trabalho dos outros e outros que trabalham para que outros vivam”
(Álvaro Cunhal, 1976)

A história do movimento operário português está longe de se esgotar no “cunhalismo”, desde a formação do proletariado (1860-1910) à experiência anarquista na república (1910-1926), e à resistência anti-fascista (1926-1940), até ao movimento de apoio dos comunistas ao governo de Salazar, caso a soberania nacional viesse a estar ameaçada (Bento Gonçalves) e ao respectivo declínio da luta contra a ditadura quando o comité central se reduziu a cinco elementos (1940-1955). Álvaro Cunhal chega com a nova estrutura do proletariado no pós-guerra e com a degeneração revisionista do Partido da classe operária (1955-1966). É neste ponto que existe uma ruptura com a tradição bolchevique da independência da classe dos trabalhadores em relação à pequena e média burguesia. No contexto do conflito Sino-Soviético existe também em Portugal um cisma que divide o PCP. Depois de 1956 a corrente politica pró-Maoista começa a questionar a linha do PCUS, e após o XX Congresso, nomeadamente a chamada coexistência pacífica entre classes sociais. A partir do 7º Congresso da Internacional Comunista em 1935 o búlgaro Georgi Dimitrov tinha proposto, tendo sido aprovada, a incorporação dos partidos comunistas a plataformas conjuntas com a social-democracia. Essa orientação interclassista rompe com o princípio leninista da independência de classe e marca o inevitável declínio do movimento revolucionário – a nefasta “Frente Única” que falhou primeiro em França e teve o seu primeiro ensaio de força na guerra civil de Espanha

Em ruptura com o PCP o militante dissidente comunista Francisco Martins Rodrigues funda o primeiro partido maoista em Portugal em 1964 contra a teoria cunhalista do 'levantamento nacional', defendendo a independência de classe na luta contra a ditadura. A ruptura com o Partido Comunista Português veio ainda antecedida de discrepâncias com a linha do partido face à guerra colonial. Propunha-se então a insurreição popular armada como via para a oposição à política colonial da ditadura portuguesa, em apoio aos povos africanos que enfrentavam o colonialismo português”. De regresso Martins Rodrigues é preso quando desencadeava acções contra a Nato a cujas estruturas Salazar sonegava equipamento militar para prosseguir o esforço de guerra.

Por contraste, Carlos Brito conhece Álvaro Cunhal em Paris em Outubro de 1966, depois de sair da prisão de Peniche e “é enviado com toda a rapidez para Moscovo para frequentar um curso politico para estrangeiros” (pag 24). É a história enaltecedora da amizade entre estes dois homens que Carlos Brito vem agora contar em livro, oportunamente a ser lançado com a presença do candidato “reformista” Manuel Alegre - ou seja, mais um sapo a engolir pelos comunistas na longa lista que já levam no pós 25 de Abril, precisamente numa altura de crise em que cresce a adesão dos trabalhadores ao movimento comunista independentemente da orientação das direcções partidárias.

Está vista a razão porque só agora, cinco anos precisos após a morte de Cunhal, o “renovador” ex-pró-URSS revisionista Carlos Brito vem fazer a elegia do mestre. Citando do livro subtitulado o último dos “sete fôlegos do combatente”, os “sobressaltos ideológicos e viragens tácticas”... fizeram do partido o mais fiel colaborador do regime. Comentando o regresso de Cunhal à direcção em 1999 para corrigir desvios diz-se que foi “imposta a férrea obediência da ortodoxia conservadora”. Invertendo os papéis, os “novos reformadoresé que são “revolucionários – mas que dizer do autor e da estrutura monolítica de um partido que conserva Carlos Brito como porta-voz do grupo parlamentar durante 15 anos a fio? E de Carlos Carvalhas, o cinzento Secretário-Geral que exerceu o cargo durante 12 anos, desde 1992 à data de resignação em 2004, e é referido como “tímido e hesitante na sua simpatia pela renovação” (pag. 16).



Depois do 25 de Abril o PCP instituiu-se como uma conceituada escola de reformistas para abastecimento ideológico da burguesia. A lista de dissidentes é imensa e os serviços prestados “ao grande capital” (usando a expressão de Vital Moreira) são inestimáveis.

Basta a qualquer um apresentar o diploma de frequência no PCP para que todas as portas das secretarias e ministérios lhes sejam franqueadas. E a completar o quadro a imprensa cor de rosa-e-laranja alimenta-se dos escritos de tão conceituados autores para diversão dos leitores compulsivos de embustes. Como “peixes na água” das nuances de cada partido operário, dos revisionistas de sempre chegam-nos ainda ecos da Conferência dos Partidos Comunistas e Operários da Europa realizada em Praga em 1967: “a ditadura fascista utiliza a violência para se manter no Poder, por isso só pela violência pode ser derrubada” (da tese apresentada pelo PCP, pag.26). Não vale o esforço de ir mais longe no “Rumo à Vitória" (pag. 83). Decididamente o discurso nunca coincidiu com a prática
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3 comentários:

Diogo disse...

"Whatever the price of the Chinese Revolution, it has obviously succeeded not only in producing more efficient and dedicated administration, but also in fostering high morale and community of purpose. The social experiment in China under Chairman Mao's leadership is one of the most important and successful in human history." David Rockefeller, statement in 1973 about Mao Tse-tung: (NY Times 8-10-73)

http://www.theforbiddenknowledge.com/hardtruth/believe_new_world_order.htm

O Puma disse...

é XATOO pá

xatoo disse...

Rockefeller verificou isso quando Nixon abria as portas para o comércio bilateral entre os dois paises. Hoje, passados quase 40 anos, a China é a principal credora dos titulos de dívida dos Estados Unidos e continua a ser governada por um partido Comunista. De facto pode prever-se que o Ocidente a curto prazo, será obrigado a adoptar o modelo de gestão de economia centralizada, como o da China comunista. Pelo que se observa na saúde e no controlo estatal sobre Wall street Obama estará já a dar os primeiros passos nesse sentido