Pesquisar neste blogue

sábado, março 05, 2011

"Socialisme", o filme de Jean-Luc Godard

hoje dia 5 na Culturgest, dia 6 em Serralves, em Abril na Cinemateca - num país decente este seria um dos acontecimentos culturais do ano, mas de "film socialisme" e de cultura temos a barbárie:

O filme apresenta o ponto de vista de Godard sobre o estado actual da Europa, pelo prisma de uma viagem do navio de cruzeiros "Costa Serena" através do "Mare Nostrum"
clique aqui para visualizar o mapa interactivo da formação e desaparecimento do dominio do Império Romano sobre o Mediterrâneo (510 a.n.e - 495)

"Socialisme" é composto de três movimentos: 1."As Coisas como Elas São", a bordo entrecruza-se uma algaraviada de dialectos representados por uma amostra significativa dos passageiros em férias que navegam indiferentes ao mar em pano de fundo: um criminoso de guerra que enriqueceu, um alto quadro das Nações Unidas, um detective da ex-União Soviética, um idoso agente-duplo, Alain Badiou um francês célebre, a cantora americana Patti Smith... enfim, uma excursão de novos argonautas onde não há muito para extrapolar da multiplicidade das palavras, pelo contrário, nota-se que em certas circunstâncias o silêncio é de ouro; 2. o segundo movimento é "A Nossa Europa" onde chegam agora vindos das terras que já foram o celeiro dos romanos novos náufragos ("esta pobre Europa, eles não a purificaram, mas corromperam-na pelo sofrimento; eles não voltam para a enaltecer, mas humilhados pela reconquista da liberdade"). Noite cerrada, dois candidatos a eleições são convocados a comparecer perante um tribunal de crianças: os juizes pretendem obter explicações honestas sobre os temas liberdade, igualdade e fraternidade;

e 3. o movimento final "A Nossa Humanidade", onde a viagem toca nos sitios miticos da história da civilização ocidental: o Egipto (o Islão é o oriente do ocidente), a Palestina (onde não acontece nada, excepto Israel), Odessa (a invasão semita, o ruir das lendas da democracia fundada sobre o regime de escravatura), Nápoles (memória da invasão americana durante a 2ª grande guerra, "viver ou dizer sim, não temos escolha"), a Grécia (a grega Helade de onde deriva a palavra anglo-saxónica "Inferno"), por fim Barcelona (os bastardos que rejeitam o encanto côr de rosa da monarquia)

Jean-Luc Godard deu a conhecer «Socialisme» na rede de internet numa forma cinematográfica experimental inovadora : condensou e acelerou as imagens da longa metragem em 4 propostas de velocidades diferentes, um vídeo-clip de 4min25seg e as seguintes numa aglutinação mais rápida 2min32seg, depois cada vez mais hipnóticas as mesmas imagens resumidas em 1min,34seg e ainda num mínimo/máximo de 1min32seg, ou seja, a cada espectador, mais lento ou mais rápido, caberá interpretar a História conforme as seis versões e a sua disposição para as ver, (ou, no caso de velocidade zero, não querer ver)

"Não haverá solução sem que vejamos a Europa feliz de novo, sem que ouçamos de novo a palavra Rússia e a palavra Liberdade"
.

Sem comentários: