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sexta-feira, maio 13, 2011

Cleveland Contre Wall Street

Desde a implosão do mercado imobiliário, que já se adivinhava em 2006, até ao rebentamento da bolha financeira em 2008, tem-se gerado um entendimento da crise que pretende lançar a ideia que meia dúzia de facínoras praticaram umas quantas mega-burlas e que, uma vez esquecidas estas, se volta a pôr tudo a zeros e a economia neoliberal voltará a funcionar às mil maravilhas como se nada se tivesse passado. Nada mais longe da realidade. A crise é inerente ao próprio sistema e à concentração capitalista nas bolhas motoras da economia que são determinadas pelo centro decisor global. (ontem a indústria da guerra, depois a construção civil, amanhã a venda de quotas sobre a poluição climática, etc.)

Desde meados dos anos 80 que a administração Reagan tinha determinado um programa de incentivo à habitação, de livre iniciativa privada, no sentido de compra de casa própria pelas classes sociais mais baixas, as que não tinham qualquer poder de compra significativo para o poderem fazer. Não se tratava de qualquer programa social segundo os parâmetros europeus. Nos EUA fizeram-no não com um qualquer desígnio altruísta, mas sim pela necessidade de expandir o sistema capitalista a fim que os impostos cobrados registassem um aumento capaz de continuar a sustentar o Estado e a burguesia que tem nele o seu principal instrumento de dominação e exploração sobre as classes trabalhadoras. O epilogo vai sendo conhecido: conforme se foram agravando as condições do modo de acumulação de capital, a crise passou do subprime norte americano para a economia global em geral e seguidamente para a dívida soberana de Estados inteiros...

No dia 11 de Janeiro de 2008 o município de Cleveland no Estado do Ohio encarregou a equipa de advogados de Josh Cohen de processar 21 bancos de Wall Street, pela venda fraudulenta de hipotecas a gente que se sabia não terem rendimentos para pagar os empréstinos, titularizando-os e vendendo em pacotes nos mercados financeiros globais essas obrigações (bonds). Pretendia-se levar esses bancos a julgamento, considerando-os responsáveis pela devastação imobiliária causada pela perda de milhares de habitações e pelo despejo compulsivo dos seus proprietários que arrasou bairros inteiros na cidade, uma das primeiras a ser afectada pela onda de falência de subprime nos EUA. Todos tinham ganho milhares de milhões nesse processo, promotores bancários, agentes imobiliários e executivos da alta finança; todos menos os mais pobres, semi-analfabetos, idosos e desprotegidos que se viram de tarecos no olho da rua enquanto Wall Street esfregava o outro olho.



Mas os 21 bancos de Wall Street sentindo-se atacados opuseram-se com todos os meios ao seu alcance à abertura do processo judicial, nomeando um causídico que habilmente inverteu a nota de culpa: “foram os bancos que resolveram emprestar dinheiro ao desbarato, apostando em produtos financeiros de risco com o fim de obterem lucros, ou foram as pessoas que assinaram os pedidos de empréstimo que sabiam não ter condições para pagar? A uma das testemunhas inquiridas é-lhe perguntado se não tinha achado estranho que um agente local desses bancos o tivesse aliciado para renegociar a hipoteca sobre uma casa que comprou por 26 mil dólares (com juros a 2,5%) para 40 mil dólares (com juros de 8,5%) e no espaço de dois anos para uma segunda hipoteca de 71 mil dólares? (com juros a 14%). Houve angariadores e comissionistas que de marginais se tornaram milionários num curto espaço de tempo...



Há comportamentos chocantes e revoltantes de ambos os lados, de um lado a ganância, de outro a ambição – mas, é uma táctica viciada, os mesmos argumentos utilizados não são válidos para as duas partes como se fossem iguais - pretende-se comparar a ambição de indivíduos avulso que pouco ou nada possuem na sociedade com a máquina diabólica que é uma mega estrutura bancária centralizada, livre e organizada para obter lucro sem olhar a meios. No final o advogado enviado por Wall Street ganha e o processo é arquivado sem sequer ter ido a julgamento. “Cleveland contre Wall Street“, (exibido ontem no IndieLisboa) conta a história encenando o julgamento que não existiu como ele deveria ter sido, recorrendo às personagens reais que intervieram no processo e filmando-as no tribunal onde o caso deveria ser julgado. Nos final da ficção o jurado decide por 5 votos contra 3 que os bancos foram culpados, mas a falta de quórum impediria a sua condenação. Na cena final da obra realizada pelo francês Jean-Stephane Bron apresenta-se Barack Obama ainda em campanha prometendo que os culpados pela devastação da economia norte americana seriam severamente punidos, quando afinal depois de eleito o que foi efectivamente feito foi despejar muitos milhares de milhões de dólares de ajuda em cima desses mesmos bancos


5 comentários:

xatoo disse...

sem dúvida, "Inside Job" é um bom documento que analisa a situação a partir do ponto de vista dos executivos financeiros que provocaram a crise (que em tempo comentei aqui). "Cleveland Contre Wall Street" documenta as consequências vistas pela parte dos lesados. Os dois filmes complementam-se. Infelizmente não me parece que este "Cleveland" (feito por um francês, porque nenhum norte americano se atreve por estes caminhos..)vá ter direito a exibição no circuito comercial

Karocha disse...

Já o tenho, mas ainda não tive tempo para o ver!

Isto é que foi um apagão Xatoo...

xatoo disse...

é verdade Karocha
o blogger esteve interdito à publicação de posts durante quase dois dias... e alguns até desapareceram... mas por agora parece ter tudo voltado ao normal
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Anónimo disse...

Inside Job / Trabalho Interno (2010)

com legendas em português,

http://docverdade.blogspot.com/2011/03/inside-job-trabalho-interno-2010.html

Anónimo disse...

ou melhor: “Inside Job, Documentário sobre a crise de 2008.”


Download Filme: http://www.megaupload.com/?d=SML5Z02F

Legenda do Filme: http://www.megaupload.com/?d=2XZUONIP