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quinta-feira, fevereiro 16, 2012

a Arte e a Biblia ao serviço do Dinheiro

O rei persa Assuerus perguntou ao seu principal conselheiro, Haman, qual seria a maior honra a prestar a um homem que lhe havia feito bem. Haman pensou que o rei se estava a referir a ele, mas cedo descobriria que o homem destinado a receber a maior honra era o judeu Mordecai, principal rival de Haman. Mordecai tinha ouvido planos para assassinar o rei, informou as autoridades e os presumiveis assassinos foram enforcados ainda antes de terem tentado praticar o crime. Neste contexto, Haman, admiradissimo por o Rei ter emprenhado pelos ouvidos, ficou muito chocado quando recebeu ordens para levar Mordecai pela cidade ao som das trompas no melhor cavalo do rei.
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Na gravura de Lucas van Leyden (1515) o autor escondeu a figura de Haman por detrás do cavalo. Rembrandt retomaria o tema em 1641 realçando em muito a figura do judeu e pondo um humilhado Haman em primeiro plano definido pelo seu típico turbante árabe como que citando o Livro de Esther 6:11: “Assim deve ser feito ao homem a quem um Rei deliciado deseja honrar”

De facto as duas gravuras demonstram mais os desígnios da época e do lugar em que foram feitos, a Europa, que a atípica pulhice humana da fábula bíblica na luta por um lugar na sombra do Poder.

Em 1515. Após a queda do Reino de Granada em 1492 os mouriscos peninsulares viram-se constrangidos a abandonar as suas terras; os mais abastados sairam pelos seus meios, passando aos milhares por Portugal a caminho do Norte de África, Tunis e Argel, do Oriente Otomano e no norte da Europa para os países baixos. Os mais desafortunados permaneceram, aceitando conversões religiosas forçadas. Era a última presença árabe na Europa, que durara 700 anos na peninsula ibérica. À data da obra de Rembrandt (1641) Filipe II tinha herdado o Império dos Habsburgos, desde a Espanha e Portugal até à Sicilia, incluindo partes da Alemanha, França e Holanda. Nesse ano os árabes conversos que tinham permanecido em Espanha (após a 1ª expulsão de 1609) receberam nova ordem de expulsão. Depois da revolta das Alpujarras o Rei temia a invasão da frota Otomana em socorro da miserável condição a que haviam sido reduzidos os sobreviventes do Islão na Ibéria. Mas a ascenção da Europa católica de Carlos V tinha sido fulgurante: O historiador Earl J.Hamilton (in American Treasure and the price revolution in Spain) afirma que a Espanha entre 1520 e 1555 aumentou em nove vezes e meia a massa monetária de maravedis em circulação à custa do metal precioso importado do Novo Mundo, isto é, do saque e aniquilação dos recursos indígenas americanos. Nada de espantar que Rembrandt na Holanda dominada por Filipe II, em reforço da posição dos tesoureiros do Rei, tenha aceite a encomenda para realçar o “Triunfo de Mordechai” nesse mesmo ano de 1641. A Liga Santa capitaneada pelo governador da Flandres, (o mesmo Juan de Austria já antes envolvido na repressão sobre os revoltosos de Alpujarras) derrotaria em definitivo os Otomanos em 1671 na batalha de Lepanto, pondo fim à expansão do Islão no Mediterrâneo
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