Pesquisar neste blogue

segunda-feira, outubro 15, 2012

que diferença entre Investidores e Credores?

Pensam os ingénuos que na alta finança uma falência representa a perda total dos valores, apenas se salvando o esqueleto imobiliário e obras de arte das instituições insolventes, os quais são administrados como massa falida e distribuídos, prioritáriamente e por esta ordem, aos seus trabalhadores, ao Estado e só depois, o que sobra, aos credores. Isso era antigamente, quando ainda existiam vestígios de honestidade no capitalismo a armar ao social-democrata. Porém, a evolução de um tal sistema de fachada (ao remunerar o Capital sem limites, enquanto o Trabalho é menosprezado, conquanto seja o vector principal na criação de Valor), só poderia dar no que está a dar…

Obviamente, os nossos meios de comunicação dos interesses dos actores visíveis tratam o assunto com pinças abstractas: "Foi um erro colossal deixar falir o banco" (1), diz o advogado de defesa Harvey R. Miller da Lehman Brothers em Tribunal - “o arranque do processo foi a faísca que fez deflagrar a turbulência nos mercados e nas economias mundiais. A falência chocou os mercados e resultou numa forte redução do valor que, sem a intervenção do Tesouro norte-americano, poderia ter resultado numa depressão mais severa (2). Mesmo com a intervenção, os resultados foram os que estão à vista” (3). Mas a verdadeira noticia não vem aqui referida. Vem no Financial Times, cuja essência é a que se segue (4):

O banco norte-americano Lehman Brothers (fundado em 1850 por três imigrantes judeus (5) e gerido até 1969 pelos seus descendentes e família (6) – que apresentou a declaração de falência às duas da madrugada num dia de Outono de 2008 – chegou, agora, quatro anos depois, a acordo com a sua filial em Londres sobre 38 mil milhões de “créditos empacotados e expedidos para a Europa”, abrindo assim caminho para que esses “activos” possam vir a ser distribuídos pelos credores/clientes nos Estados Unidos.
Tony Lomas, administrador Lehman Brothers International para a Europa, confirmou que em principio concorda com as reivindicações apresentadas por James Giddens, administrador nos EUA da casa-mãe Lehman Brothers Holdings Inc. Segundo o Financial Times, o acordo precisa da aprovação dos Tribunais, tanto nos Estados Unidos como na Grâ-Bretanha, o que constituirá um marco importante para os clientes lesados pela falência do Banco nos Estados Unidos virem a receber 100% do dinheiro que tinham investido em acções especulativas do imobiliário cuja derrocada esteve na origem do escândalo e da crise provocada pelos títulos “suprime” (7)

Enquanto o Tribunal britânico, naturalmente, virá a autorizar este reembolso de 38 mil milhões, a Grâ-Bretanha prepara-se para cortar 10 mil milhões de libras em benefícios sociais.


notas
(1) "Foi um erro colossal deixar falir o Lehman Brothers" (DN, Dinheiro Vivo)
(2) Emissões de dinheiro a descoberto designadas por "Tarp-Money" por legislação promulgada por George W. Bush em Outubro de 2008
(3) "Lehman só existe para devolver dinheiro aos lesados" (DN, Dinheiro Vivo)
(4) Noticia original no Financial Times
(5) “Um dia foi suficiente para colocar um ponto final nos mais de 150 anos de vida de um império fundado por três imigrantes judeus - Henry, Emmanuel e Mayer Lehman 1850-1969. (DN, Dinheiro Vivo e Wikipedia)
(6) Lehman Brothers, Breve História, a Glória e o Colapso
(7) Noutras disputas entre outras partes europeias da Lehman, nomeadamente no caso da Suiça, existe acordo para que dos 6 mil milhões reclamados que constam dos livros de contabilidade, a empresa transfira apenas 55 milhões. Este tipo de procedimentos fraudulentos na origem da hiper-inflação financeira estão decertos relacionados com a presente constatação de que quatro dos maiores bancos mundiais estão em risco de falência, entre eles o suiço UBS 
.

Sem comentários: