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sábado, dezembro 27, 2014

BES-Angola, como me abotoei com dezenas de milhões? "isso é assunto do meu foro pessoal"

Os accionistas angolanos do BES-Angola, com os recorrentes Generais do regime à cabeça, disseram ao Expresso que querem que Álvaro Sobrinho revele para onde foram os créditos "desaparecidos" de 5,7 mil milhões de dólares. Há muitas dúvidas sobre a Akoya, entidade gestora de fortunas, com sede na Suíça, de que Sobrinho é sócio e Ricardo Salgado era cliente. A sociedade estava no centro das suspeitas de branqueamento de capitais no caso Monte Branco". O ex-presidente do BESA falou na Comissão de Inquérito do Parlamento, mas não disse grande coisa...

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e do meio do "não sabe nada" saiu a declaração mais bombástica: "o dinheiro emprestado pelo BES ao BESA nunca saiu de Portugal". Nunca saiu? a deputada Mariana Mortágua no diário que faz para acompanhar a Comissão de Inquérito ao BES aprofunda a questão: "Fugindo ao detalhe que a questão exigia, Sobrinho explicou que os 3.300 milhões de Euros emprestados ao banco angolano que geriu até 2012 estavam em Portugal por duas vias:
1. Porque 1500 milhões foram para o BESA comprar, em 2008, obrigações do tesouro angolano. O Estado angolano depositou o valor da venda numa conta em Portugal;
2. Porque o BESA prestou uma espécie de garantias aos importadores angolanos de produtos exportados a partir de Portugal e que, quando os importadores falharam, o BESA teve de respeitar essas garantias pagando, sem receber, essas verbas ao banco dos exportadores, quase sempre o BES. Vamos explorar aquilo que Sobrinho não explicou.
Angola Connection
Comecemos pelo primeiro ponto. No final de 2013, o BESA apresentava nas suas contas a exposição a títulos do governo angolano no total de 686 milhões de euros (em 2012 tinham sido 908 milhões). Mesmo que esse montante – ou até mais, como parece que acontecia – estivesse depositado em Portugal, as obrigações pertenciam, de facto, ao BESA. Essas obrigações eram usadas, pelo BESA, como garantia para ir buscar dinheiro emprestado ao BNA (Banco Central de Angola) e assim aumentar a sua capacidade de fazer créditos em Angola. No segundo ponto, Sobrinho referiu-se aos créditos documentários – uma espécie de garantia de pagamento ao exportador, usada quando não existe uma relação de confiança com o importador. Através destas operações o importador pede ao seu banco (no caso um comprador angolano que recorria ao BESA) que garanta perante o banco do exportador (um vendedor português, cliente do BES) que aquilo que está a comprar vai ser pago.

O que Sobrinho veio dizer é que uma grande parte do dinheiro emprestado pelo BES ao BESA serviu para o banco angolano pagar a exportadores portugueses e, assim, teria ficado em Portugal. Aceitando como verdade que todo o dinheiro que não tinha servido para comprar obrigações estava neste tipo de garantias, o BESA substituiu importadores angolanos incumpridores num montante não distante de 2.600 milhões de Euros. Para se perceber o exagero deste número temos de nos socorrer, novamente, das contas do BESA. A maior exposição do BESA em créditos documentário foi reportada no balanço de 2013. Era de 372 milhões de euros. Embora o balanço seja apenas uma fotografia em final de ano (ou seja, não mostra as operações que se fizeram ao longo do ano) é muito difícil conceber que uma carteira de créditos documentários desta ordem desse origem a perdas de 2.600 milhões de Euros. E se, de facto, deu, então temos de perguntar por que é que as provisões para créditos de cobrança duvidosa nunca atingiram valores superiores a 400 milhões de euros.

De qualquer das formas, seja a tese mentira – e o dinheiro tenha ido para outros lados, ou verdade – e a incompetente distribuição de crédito tenha gerado perdas deste montante o dinheiro foi sempre concedido a partir de Angola (se o gastaram, ou não, a importar de Portugal, ou o colocaram em offshores é irrelevante para esta história). Incompetência ou na mentira, ou uma combinação de ambas. O problema não é ter emprestado dinheiro a Angola. É ele ter sido gasto de forma potencialmente danosa e fraudulenta. A lista dos empréstimos abrangidos pela garantia do governo de Angola é, assim, uma peça fundamental para trazer a esta comissão de inquérito a verdade que Sobrinho não lhe dispensou". (Transcrição integral do blogue Disto Tudo, 23 de Dezembro)
relacionado

"Uma das principais causas da crise do BES resulta da concessão de empréstimos a dirigentes políticos angolanos da esfera do presidente Eduardfo dos Santos, numa lista interminável encabeçada por um crédito de 800 milhões autorizado a Marta dos Santos, irmã do presidente. Com este dinheiro, Marta dos Santos financia um empreendimento imobiliário em Talatona, que leva a cabo em parceria com o construtor José Guilherme... o tal que deu uma prenda de 14 milhões a Ricardo Salgado"

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